quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Quando se perde a humanidade

Seguindo o já tradicional espírito de final de ano e cedendo à tentação das retrospectivas e das listas de “melhores do ano”, atendemos ao chamado feito pelo Portal Literal que convida a responder:

Qual o melhor livro que você leu em 2007?

O bacana desta lista é permitir sair do esquema dos previsíveis “mais vendidos”. A diversidade e o interesse da lista dependerá das contribuições de nós, leitores. Vale do último lançamento ao clássico, não importando o ano de edição. Para participar, vá até o Portal Literal. O resultado deve sair ainda neste mês.

Abaixo confira minha escolha em 2007.

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É isto um homem?
Primo Levi


Rocco, 1988
Original: Se questo è un uomo (Einaudi, 2005)


Há 20 anos da morte de Primo Levi, e 60 da primeira publicação do livro, “É isto um homem” revela-se uma obra sempre atual e de fundamental importância. Quando se deixa de ser humano? Quando se perde toda a humanidade? A terrível realidade dos campos de concentração nazistas evidencia o horror e a barbárie de que o homem é capaz, quando vê o Outro não como sujeito dotado de igual dignidade mas como objeto, não como ser humano mas como coisa a ser suprimida – e assim, quando renuncia também o algoz à sua humanidade. Primo Levi, num misto de diário e de arguta análise sociológica e psicológica, narra em modo notável e preciso a (sobre)vida nos campos de Auschwitz, com o conhecimento de quem sofreu na própria pele e viu com os próprios olhos o período mais negro da história.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Quando qualquer coisa significa qualquer coisa



















Foto: Road Crossing, Gary Heayes, Open Photo


Que dias, os nossos. Quando se pode dizer qualquer coisa significando qualquer coisa. Qualquer coisa significando o seu contrário. É o triunfo da pura retórica.

Os acontecimentos dos últimos dias ilustram profusamente este dizer qualquer coisa significando qualquer outra coisa. E devem preocupar.

Quando “democracia” significa desrespeito de toda regra democrática, ausência de liberdade, boicote à oposição, pretensões ditatoriais envernizadas, nem bem mascaradas. Quando a fala dos “direitos humanos” é usada para justificar a guerra e os interesses econômicos por detrás dela (esta não é nova). Quando as palavras fundamentais de “amor” e “esperança” escondem discursos de intolerância e prepotência.

As efêmeras, delicadas letras, por vezes rebelam-se...

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Entrevista

Entrevista concedida a Alexandre Capilé (Editora Juruá), em ocasião do lançamento de meu livro, “Direito à morte com dignidade e autonomia” - março 2007


1- O que a motivou a escrever sobre um tema tão delicado e controvertido?

As questões da bioética sempre me fascinaram. Meu estudo do direito praticamente coincidiu com meu interesse nesta área, visto que comecei a pesquisar em bioética já no segundo ano da faculdade. Talvez este interesse se explique pelo fato de eu vir de uma família de muitos médicos... Assim, me instigava a busca por melhor compreender as interfaces entre os âmbitos das ciências da saúde, da ética e do direito. Neste percurso inicial de pesquisa, tive a felicidade de poder contar com a orientação da professora Judith Martins-Costa, a quem devo as primeiras lições de bioética. Com relação ao tema específico do final da vida, que abordo no livro, penso que contribuiu fortemente a motivar-me o meu envolvimento no “Projeto Literatura Infantil e Medicina Pediátrica: uma aproximação de integração humana” (PLIMP/Faculdade de Letras da PUCRS e Setor de Pediatria do Hospital São Lucas da PUCRS), quando, ao contar histórias às crianças hospitalizadas e aos seus familiares, acabei por ingressar em um contexto muito particular, felizmente nem sempre feito de doenças graves ou fatais, mas que de qualquer modo tornava evidente sua delicadeza e peculiaridade. Os sentimentos por vezes de esperança, por vezes de desalento e angústia, a força, o cansaço, o medo, as pequenas e grandes vitórias, as grandes tristezas. É certo que, em se tratando de pacientes crianças, há aspectos particulares envolvidos, e a questão da autonomia forçosamente vem relativizada em prol da proteção da criança (busquei abordar sucintamente esta situação específica em uma secção do livro). Na obra, porém, o foco é dado àqueles doentes adultos que, quando em estado terminal e em condições de capacidade e consciência, devem poder expressar sua vontade de forma autônoma (sempre informada) e, de acordo com seus valores, crenças e convicções, decidir como desejam transcorrer os últimos momentos de suas vidas. Conversas que tive com a amiga Lívia Pithan, jurista que também se dedica às reflexões bioéticas, contribuíram a sedimentar minha decisão de escrever sobre este tema.

2- Em seu livro é mencionado que o temor que as novas tecnologias não sejam utilizadas em beneficio do homem e da humanidade, e sim para concentrar o poder nas mãos de poucos, gerou a percepção acerca da necessidade de estabelecer-se certos limites ao desenvolvimento tecnológico e à realização da ciência. A senhora acredita que o conhecimento e o desenvolvimento tecnológico possam realmente ser freados e contidos?

Os novos conhecimentos científicos e biotecnológicos adquiridos nos trouxeram significativos benefícios à saúde e um incremento da qualidade e da expectativa de vida. De fato, vivenciamos um cenário de veloz concretização de muitos anseios – o alívio da dor, a superação da infertilidade, a libertação de doenças – graças ao desenvolvimento de novos fármacos, aparelhos e procedimentos médicos, de novas formas de reprodução humana e da pesquisa em engenharia genética. Contudo, os avanços das ciências biomédicas suscitam uma série de questionamentos de ordem ética, política e jurídica, acerca do modo de fazer ciência e acerca dos usos dos resultados das pesquisas e das novas tecnologias à saúde humana, e também ao ecossistema. Diante dos riscos comportados por um uso arbitrário dos novos conhecimentos científicos, e percebendo-se que seus efeitos alcançam as demais esferas da vida, faz-se indispensável compreender a ciência não como experiência isolada e auto-suficiente, mas como necessariamente indissociável do âmbito da ética (nesta direção se dá, justamente, o surgimento da bioética). Não compete à própria ciência valorar os dados e resultados que ela produz, nem suas possíveis aplicações. Deste modo, é legítimo que uma sociedade estabeleça limites de natureza ética e também jurídica à ciência e à tecnologia, de acordo com valores partilhados e considerados fundamentais. Aqui o importante papel do direito, ao conjugar à normatização os elementos de segurança e coerção. Todavia, com relação ao papel do direito, entendo ser necessário buscar um equilíbrio entre posturas extremas: de um lado, o que podemos chamar de “abuso normativo” (a máxima regulamentação e contenção da ciência, com escarso espaço para a liberdade e o desenvolvimento), e de outro, uma postura de “laissez-faire” (a omissão do direito em favor de uma ampla liberdade científica guiada pela fé inabalável no progresso) – idéia que pude desenvolver em um texto recente. Assim, não se trata de simplesmente frear o desenvolvimento da ciência, muito menos a aquisição de novos conhecimentos, o que é importantíssimo e ao meu ver imprescindível, mas de procurar conciliar a noção de liberdade científica e de esperança no progresso com a noção de responsabilidade e precaução quanto ao modo de fazer ciência e especialmente quanto aos possíveis usos e aplicações dos seus produtos, de forma a tutelar os valores básicos de uma sociedade.

3- A bioética surgiu da necessidade de se usar corretamente as novas tecnologias aos casos referentes à vida, saúde e morte. Qual o destino da ciência sem a ética?

Como afirma Edgar Morin, “a época fecunda da não-pertinência dos julgamentos de valor sobre a atividade científica terminou”. Uma ciência que reconhece a dimensão da reflexão ética é uma ciência capaz de conceber o enraizamento dos valores em uma determinada cultura e sociedade. É, para usar a feliz expressão de Morin, uma “ciência com consciência”. A ciência sem a ética trilharia um caminho certamente autoritário e obscuro, prescindindo da transparência de sua prática e de seus resultados, furtando-se ao debate público em torno de valores partilhados, à deliberação política para a elaboração de leis, e deste modo concentrando cada vez mais o conhecimento e o poder nas mãos de alguns, para satisfazer interesses (políticos e econômicos) particulares.

4- A senhora não acha preocupante o paciente ter o poder de decidir sobre o uso ou não de um tratamento proposto por um profissional capacitado, no caso do médico, sendo esse paciente leigo no assunto?

Em primeiro lugar, a informação é fundamental. Uma boa relação entre médico e paciente requer diálogo aberto e informação adequada acerca do quadro clínico, das opções de terapia e dos respectivos efeitos esperados, de modo a fornecer as melhores condições possíveis para a tomada de decisão. Penso, diversamente, ser preocupante um comportamento paternalista ou autoritário por parte de quem detém o conhecimento técnico-médico, como se a partir deste conhecimento técnico se pudesse deduzir, naturalmente e de forma unívoca, o rumo terapêutico a ser tomado em uma situação de terminalidade da vida. Nestas situações, ao meu ver, falam mais alto os valores e as convicções pessoais do paciente, devendo ser protegido o seu direito ao exercício da autonomia. Pensemos na hipótese em que ao paciente terminal simplesmente não fosse reconhecido espaço de manifestação e decisão, ou ao menos de participação ativa na tomada de decisão! Isto implicaria uma desconsideração da sua liberdade, da existência de uma esfera de sua vida que diz respeito, antes de tudo, a si próprio. O que significa morrer com dignidade? Diferentes respostas podem ser dadas a esta pergunta, o que dependerá da cultura ou dos valores individuais de cada paciente. Concordo com Ronald Dworkin quando diz que importa o modo como morremos. Muitos de nós gostaríamos que este momento final guardasse uma coerência com o modo como vivemos durante toda a nossa vida: com valores e convicções que cultivamos, que nos são caros.

5- Observando a situação pelo ângulo do médico, essa “liberdade”, esse “poder” proposto ao paciente não comprometeria a autoridade técnica e científica do profissional, inclusive vindo a médio e longo prazo comprometer sua capacidade profissional e estabilidade emocional?

Não, se entendermos que o dever do médico perante o seu paciente não é o de curar ou lutar pela cura em todos os casos e a qualquer custo, tampouco o de tomar as decisões pelo paciente. Ser um bom médico não deve ser sinônimo de um comportamento paternalista, de decidir no lugar do doente “pelo seu bem” (de que bem se trata?). Não vejo como o respeito à autonomia do paciente, e a preocupação do profissional de evitar posturas autoritárias, possa comprometer de algum modo a sua capacidade profissional ou a sua estabilidade emocional. Parece-me que os profissionais da saúde devem receber formação no sentido de saber lidar com as situações de terminalidade da vida e de saber distinguir entre os seus valores particulares e o pluralismo de valores que deve caracterizar o ambiente hospitalar e a assistência à saúde (neste sentido, importante reportar-se a Engelhardt). O médico tem o dever de informar o paciente, transmitir-lhe o conhecimento técnico, e não o dever (ou o direito) de valorar pelo paciente. De qualquer modo, entendo ser importante o reconhecimento da possibilidade de alegação de objeção de consciência por parte do médico, quando uma determinada prática ou procedimento contrarie fortemente os seus próprios valores – especialmente em casos de pedido de eutanásia ativa (o matar, para além do deixar morrer), em um contexto onde esta prática seja lícita.

6- Hoje em dia, como os tribunais têm tratado esse assunto, quando provocados a decidir?

Nos últimos dois anos, duas decisões tiveram grande destaque na mídia e reacenderam o interesse da opinião pública mundial e o debate em torno do tema do direito à morte: o caso de Terri Schiavo nos EUA, em 2005, e o caso de Piergiorgio Welby na Itália, em 2006. No primeiro, o diagnóstico era de estado vegetativo permanente, irreversível. Terri não deixara manifestação anterior de vontade por escrito, mas, segundo seu marido, ela lhe manifestara que não gostaria de viver naquelas condições. Após sete anos de batalha judicial entre o marido e os pais de Terri, e depois de esgotadas todas as instâncias e recursos, em 2005 foi enfim decidida a remoção do tubo que a alimentava, de modo a deixá-la morrer. No segundo caso, Welby, portador de uma forma de distrofia incurável que com o passar dos anos tornara-se muito grave, prendendo-o à ventilação mecânica e a tubos de hidratação e alimentação, encontrava-se consciente e completamente lúcido, e manifestara reiteradamente seu desejo de morrer, através de um diário, de um fórum on line de discussão sobre a eutanásia e mesmo com o envio de uma carta ao Presidente da República. Em 16 de dezembro de 2006, Welby tem seu pedido de sedação terminal, seguida de suspensão da respiração artificial, rejeitado pelo tribunal de Roma. O médico italiano Mario Riccio atende ao pedido de seu paciente e desconecta-o do respirador. A morte de Welby dá-se no dia 20 daquele mês. Como se pode perceber, estes casos diferem muito entre si, e diferem também da situação específica que abordo no livro. A limitação de tratamento de pacientes em estado terminal, o que costuma ser denominado de ortotanásia, é um tema menos polêmico, sendo o seu entendimento muito mais pacífico, no sentido de não prolongar um estado penoso quando o tratamento não pode mais surtir qualquer efeito positivo e quando a morte é iminente, especialmente se esta é a vontade do paciente. O que não se confunde com a eutanásia. Estas situações dificilmente chegam aos tribunais, sendo decididas pelo paciente ou seus familiares, quando este não pode se manifestar, em conjunto com os profissionais da saúde. Os comitês de ética hospitalares ou comitês de bioética, de composição sempre interdisciplinar, têm a finalidade de orientar o profissional acerca da conduta eticamente mais adequada e de auxiliar a dirimir conflitos que se estabeleçam entre a equipe médica e o paciente ou sua família. Isto faz com que, na maior parte dos casos, não seja absolutamente necessário ingressar-se na esfera judicial. Na minha opinião, isto é o ideal, que somente pode ser alcançado através de uma boa relação médico-paciente-família.

7- No Brasil, a senhora acha possível o avanço desse tema?

Sim, e boa parte das pesquisas e da produção teórica que se dedicam a este tema e a outras questões conexas apontam nesta direção, ao partirem de uma concepção plural e tolerante da sociedade em que vivemos. Outro motivo para acreditar em boas perspectivas neste tema é a recente resolução do Conselho Federal de Medicina sobre a prática da ortotanásia, ao autorizar a interrupção de tratamento médico extraordinário em pacientes em processo de morte irreversível. Além disso, pensando nos diversos temas da bioética, o debate público bem informado é fundamental, e para que isto seja possível precisamos de educação de qualidade, meios de comunicação sérios e comprometidos com a precisão das informações, e um amplo espaço de manifestação e deliberação coletiva. Enfim, temos pela frente um longo mas indispensável caminho a ser trilhado.

8- Por fim, o que a autora diria às famílias que por ventura venham a passar ou estejam passando pela situação de ter um familiar sofrendo com as técnicas aplicadas no seu tratamento, e aos médicos e advogados que eventualmente se deparem com esse tipo de situação durante o dia-a-dia profissional?

A todos, penso que o mais importante seja destacar o respeito ao doente terminal, àquele que se encontra nos momentos finais de sua vida, e que provavelmente sofre. Buscar compreender a sua condição e os seus sentimentos, e, principalmente, esforçar-se por “ver o mundo através dos seus olhos”, recordando os valores, convicções e posicionamentos manifestados ao longo de sua vida. Buscar o diálogo franco e o entendimento, com a família, a equipe médica, o eventual representante legal. Especialmente ao advogado, por ser normalmente estranho ao contexto hospitalar, ter presente a especificidade, a delicadeza e a fragilidade que envolvem este ambiente, os sentimentos em jogo e os valores particulares, que muitas vezes se confrontam, de uma série de atores: o paciente, os seus familiares, os médicos, os enfermeiros.


Montepulciano, 29 de março de 2007

sábado, 17 de novembro de 2007

Outra estação


Vejo o outono transformar-se em inverno. Assim, num piscar de olhos, no instante de um bocejo. Da janela da casa toscana, espio os ciprestes que se inclinam solenemente à força do vento. Meus olhos alcançam os vinhedos logo ali, ramos nus, já desprovidos das folhas amarelas e vermelhas. Esplêndidas cores de um outono fugaz, que deslizam à terra sem dar aviso, sem despedida.

Quando vejo, é inverno. O jardim mais triste, mais austero. Ao longe, os picos das montanhas cobertos de neve. A lenha sendo consumida diariamente, crepitando sob o fogo, espalhando seu cheiro forte pela casa. Doce aconchego do lar, a manta no colo a aquecer as páginas do livro, ou sobre os ombros a embrulhar quem escreve.

Mas a melancolia bate à porta, espreita-nos por entre as frestas da janela, teima em querer entrar. Sensação de adeus, de coisas que não voltam mais, de um ciclo que se fecha, a ansiosa expectativa de um novo recomeço. Outra estação.

Não, nos deixe estar. Ainda um pouco, somente. Protegidos, escondidos em nosso refúgio. Casa no fim da estrada, depois da descida, virando a curva. Redoma fora do tempo e do espaço.


Letícia Möller
Montepulciano, 17 de novembro de 2007

terça-feira, 13 de novembro de 2007

O PLIMP é Fato Literário!


O Fato Literário é uma premiação anual que ocorre no período da tradicional Feira do Livro de Porto Alegre, premiando instituições, projetos e personalidades que se destacam pela sua atuação no mundo das letras, no incentivo da leitura, na facilitação do acesso aos livros. O anúncio da premiação de 2007 foi feito no último 11 de novembro, no fechamento de mais uma edição da longeva (e esperamos eterna) Feira do Livro da capital gaúcha.

Vencedor do Prêmio Fato Literário 2007 na categoria “projeto” pela votação do júri oficial, o Projeto Literatura Infantil e Medicina Pediátrica: uma aproximação de integração humana (PLIMP) consiste em uma iniciativa das faculdades de Letras e Medicina da PUCRS, que tem por objetivo levar a magia dos livros às crianças internadas pelo SUS no Setor de Pediatria do Hospital São Lucas da universidade, através da narração de histórias realizada por alunas do curso de Letras.

As crianças internadas encontram-se forçosamente afastadas de sua normal rotina escolar, de seus amigos e professores, de seus jogos e dos livros. O projeto, assim, do qual tive a felicidade de participar durante o ano de 2002 (embora não fosse aluna da Letras, mas uma “estrangeira” vinda do Direito), busca atuar no sentido de mitigar os efeitos do afastamento provocado pela internação, possibilitando às crianças ouvir histórias fabulosas, imaginar mundos diferentes, soltar sua fantasia, entrar na atmosfera mágica (e curativa) dos contos de fadas.

A merecida premiação chega no ano em que o PLIMP comemora 10 anos de existência, graças à idealização e coordenação da Profa. Dra. Solange Medina Ketzer, bem como graças ao trabalho contínuo, feito com amor e convicção, pela Profa. Dra. Maria Tereza Amodeo, que atua diretamente ao grupo de “contadoras de histórias”, partilhando não apenas de suas alegrias, dos momentos belos e gratificantes, como também dos momentos de dúvida, impasse e tristeza que inevitavelmente surgem quando se atua em um ambiente delicado como aquele hospitalar e pediátrico. E, sobretudo, guiando um trabalho que, longe de efetivar-se apenas nas periódicas sessões de narração no hospital, exige preparação e envolvimento (profissional e afetivo) muito mais amplos.

O Prêmio Fato Literário 2007 ainda premiou, na votação pelo júri oficial na categoria “personalidade”, o excelente escritor e contista gaúcho Sérgio Faraco; e na votação pelo júri popular, o Projeto Ler em Casa, bela iniciativa da Prefeitura de Picada Café que faz circular sacolas repletas de livros por todas as residências do município.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

A liberdade segundo Berlin


Fonte: The Isaiah Berlin Virtual Library, http://www.berlin.wolf.ox.ac.uk/


“A essência da liberdade sempre consistiu na capacidade de escolher como se quer e porque assim se quer, sem constrições ou intimidações, sem que um sistema imenso nos engula; e no direito de resistir, de ser impopular, de lutar pelas tuas convicções pelo simples fato de que são tuas. A verdadeira liberdade é essa, e sem ela não há jamais liberdade, de nenhum gênero, e tampouco a ilusão de tê-la”.

Isaiah Berlin, 1909-1997
Freedom and its betrayal

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Literatura para todos...somente com educação para todos

Sonhar (com os pés no chão) a difusão crescente da leitura e do amor pelo livro em nosso País exige o enfrentamento de um desafio fundamental: o constante desafio da educação e da alfabetização.

No último 8 de setembro, foi mundialmente celebrado o Dia Internacional pela Alfabetização, data instituída pela Unesco há quarenta anos, que ora vem reforçada pela instituição da Década da Alfabetização e Educação para Todos (2003-2012), que tem como principais objetivos a universalização da educação primária e a igualdade entre os gêneros na educação. No mundo, são 781 milhões de pessoas analfabetas, sendo que destes, 64% são mulheres (veja-se www.unesco.org.br/areas/educacao).

No Brasil, conforme dados de 2004, 12% da população com idade maior de 9 anos é analfabeta, totalizando 15,2 milhões de pessoas, sendo 1 milhão os jovens analfabetos entre 15 e 24 anos.

Para além desses números, há que se enfrentar ainda o chamado analfabetismo funcional, que apresenta altos índices em nosso País. Segundo o IBGE, a média nacional fica em torno de 27%: todavia, o instituto utiliza como critério para a aferição do analfabetismo funcional simplesmente ter-se menos de 4 anos de escolaridade, o que parece não contribuir de modo adequado para a compreensão da real situação do analfabetismo (total ou funcional) no Brasil.

Buscando fornecer informações qualificadas sobre a habilidade para a leitura, a escrita e a matemática da população brasileira entre 15 e 64 anos, de modo a melhor situar sociedade e governo e dar subsídios mais concretos ao estabelecimento de iniciativas e políticas públicas, as ONGs Instituto Paulo Montenegro (http://www.ipm.org.br/) e Ação Educativa (http://www.acaoeducativa.org.br/) desenvolveram o INAF - Índice Nacional de Alfabetismo Funcional, o qual compreende 3 níveis: alfabetismo rudimentar, básico e pleno. Interessante referir os percentuais relativos à habilidade para a leitura (2005): 7% de analfabetismo, 30% de alfabetismo rudimentar, 38% de alfabetismo básico, e apenas 26% de alfabetismo pleno. De acordo com o INAF, assim, conclui-se que cerca de 70% da população brasileira entre 15 e 64 anos não possui uma capacidade satisfatória de compreensão de um texto escrito... o que dirá da possibilidade de compreensão de uma obra literária, compreensão que permita ao indivíduo refletir sobre o que leu, dar asas à imaginação a partir do texto escrito e enriquecer seu mundo com as descrições, as cenas, as situações, os diálogos, os pensamentos e os devaneios contidos num livro.

No contexto brasileiro, assim, diante dos altos índices de total analfabetismo e de alfabetização precária ou insuficiente, revela-se a importância fundamental dos programas governativos e das iniciativas da sociedade civil de alfabetização de jovens e adultos. Alfabetização, contudo, que deve ser continuada, para que seja possível superar-se o nível rudimentar, e quem sabe mesmo o básico, e chegar-se ao alfabetismo pleno. Nesta direção, evidenciam-se como relevantes e muito bem-vindas iniciativas tais como a divulgada em nossa postagem precedente (Concurso Literatura para Todos), que estimulam um tipo de produção literária especial, voltada àqueles leitores que iniciam sua aventura pelo mundo das letras, que desejam seguir evoluindo no domínio da palavra escrita e enriquecendo seu imaginário e seu mundo concreto com a magia e o conhecimento que a literatura nos proporciona.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Concurso Literatura para Todos (2ª edição)




Vai até 21 de novembro o prazo para inscrições na 2ª edição do Concurso Literatura para Todos, iniciativa do Governo Federal promovida pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD) do Ministério da Educação.

Bela iniciativa, que desafia os escritores a conceber obras literárias para um público inédito de leitores (inédito porque até então ocultado ou marginalizado aos olhos da produção literária nacional): os novos leitores, não crianças, mas jovens e adultos recém alfabetizados, que iniciam agora sua aventura no mundo das letras.

O concurso premiará os melhores livros dirigidos a esse público especial, nas modalidades do conto, novela, crônica, poesia, biografia, tradição oral e teatro, distribuindo R$ 90 mil para oito escritores brasileiros e para um escritor de país africano de língua portuguesa. Cada vencedor receberá R$ 10 mil e terá sua obra reproduzida pelo MEC e distribuída aos jovens e adultos que iniciaram a alfabetização no período de 2006-2007.

Entre os critérios de análise, o Edital destaca a linguagem expressiva que estimule a imaginação e a reflexão, a contribuição da narrativa ou poesia para a construção da consciência individual, social e ética, e a capacidade do texto em favorecer o envolvimento afetivo do leitor e possibilitar a comunicação, a compreensão, o entendimento e a crítica.

Informações:
www.portal.mec.gov.br/sedac
literaturaparatodos@mec.gov.br

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

O dia dos pensamentos fugidios

A Josué,
que decretou naquela segunda-feira
o dia dos pensamentos fugidios.


Quisera pintar este dia de cores enérgicas. Colorir a manhã de dourado, pincelar a tarde, encarnado. Sacudir o azul cinzento que como poeira assentou, como névoa encobriu o dia de tons melancólicos.

O pensamento é fugidio nesta manhã estranha, manhã sombria. Escorre lento como rio lodoso, parece dar o tempo de pegá-lo de jeito. Vã ilusão, aferrá-lo é impossível.

Quisera pensar pensamentos fortes, pensamentos intensos, pensamentos belos. Quisera fixar a idéia precisa, a forma adequada, o baile harmonioso das letras justas, o som cristalino da fala acurada.

O pensamento é esquivo neste dia de brumas, dia velado. É frágil, movediço, ameaça desertar.

Quisera pintar a manhã de cores sonoras, cores ruidosas. O esmeralda do riso, o laranja do brado, despertando as tentativas do pensar.

Mas tanto esmero é grão malogrado. Flagela o pensamento, todo o juízo mortificado, sob soturno manto sepultado.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Foste

Foste,
deixando teu nome ecoando em meu ser,
marejando meus olhos,
Sophia.

Foste,
deixando no ar delicado perfume,
vestígio de roupas antigas, coisas vividas,
que vem visitar minha memória.

Foste,
deixando a presença da tua pele macia,
teu colo, abraço, tamanho aconchego,
onde me esconder do medo.

Foste,
deixando a lembrança da noite distante,
de bobos assombros no escuro do quarto,
só pude dormir quando sentaste ao meu lado.

Foste,
deixando a inútil vontade vazia
de um reencontro, saber como seria,
tudo o que agora não posso.

Foste,
deixando forte em mim o desejo
de conhecer o que foi esta vida,
que hoje assim tão discreta se finda.

Foste, Sophia,
para mim doçura e encanto,
e só o que acalenta meu pranto
é tua secular travessia.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Bom senso (dez segundos de desafogo)

Em tempos de (muitos) muitos para camuflar o nada,
em tempos de exageros a derrotar o que é simples (natural),
em tempos de ruído para espantar o (incômodo) silêncio,
em tempos de opulência para disfarçar a alma (rala),
em tempos de fanatismos a soterrar o razoável (justo) meio,
em tempos de extravagâncias consumistas já normalizadas
a (tentar) calar o tédio que se instaura...

... ah, a falta que faz o bom, o velho senso!

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

efêmeras letras

efêmeros tempos estes, templo do transitório.
efêmeros dias, momentos, um átimo e passou.
efêmeros gestos, palavras passageiras, que vêm e vão.
efêmeras letras, são como o vento, desabrocham e então...
não mais se sabe, ou nunca se soube, não se saberá?
efêmeras letras, fugidias letras,
escapam por entre os dedos, fogem aos olhos.
como o emaranhado de letras que aqui estão,
crônicas, a vida, opiniões.
sentimentos, impressões. sensações.
um miniconto, história que finda e mal começou.
são por um instante, e fim.
um pouco de mim.

Ausência (miniconto)

Sentou na soleira empoeirada, a respiração curta.
Ninguém.
Deitou as flores na terra e acariciou as pétalas perfeitas.
Tudo em vão, pensou.

Publicado no Desafio Literario Unisinos, on line, 2006.
Posteriormente publicado em Veredas, Revistas de minicontos e micronarrativas, 2008.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Meus passos

Ando em cadência, no ritmo do meu peito que vibra. Dou passos no caminho de pedra, passos na grama, na terra úmida, e de volta à pedra. Piso na poça que a chuva formou, não me importo. Não perco o compasso. Quero sentir, quero respirar. Redescobrir, re-conhecer.

Os pés gelados, a neblina cerrada envolve num abraço o corpo todo. Atmosfera de mistério da infância, promessa de infinitas possibilidades. O bosque velado, apenas as araucárias se impõem ao olhar, esculturas de majestosa atemporalidade, guardiãs do ontem e do sempre.

Meus passos são um pouco passos de criança, brincalhões. Mas são passos firmes, portam confiança, consciência. Buscam o passado, desejam o futuro, aceitam o presente, intensamente. Não é dia para passos melancólicos, de sabor agridoce.

Estou em casa...

segunda-feira, 16 de julho de 2007

A folha em branco

Raios. Como escrever sobre o Dia dos Pensamentos Fugidios quando se está... precisamente em tal dia? Escrevo agora ou deixo para amanhã? 1 minuto, 3 minutos... 10. Hum, não sei. Ou tento escrever aquele conto da banheira? 1 minuto, 3 minutos. Rabiscos. Formas geométricas. Pequenos triângulos amontoados no canto direito da folha. Pequenos triângulos de ponta cabeça. Triângulos eqüiláteros de ponta cabeça? Hum, deixo para amanhã. Ou para o sábado. Sim, para o sábado. 1 minuto, 3 minutos. Tédio. A mecha de cabelo que se enrola e desenrola e enrola novamente no dedo indicador. Poderia comer alguma coisa... 10 minutos, 15 minutos. A folha, novamente. Ali, imóvel. Intimidante. Vamos lá! Idéias, por favor... 3 minutos. Patético. Outros 3. Vou escrever aquele conto da banheira. Pronto. Aquele conto me inspira bem mais. Risca com determinação O Dia dos Pensamentos Fugidios e escreve em caracteres maiúsculos O BANHO. Eis. Assim que se começa. Um bom título, simples mas instigante. O BANHO. Que tipo de banho? O leitor nem imagina... Vamos lá. Primeira frase. 1 minuto, 3 minutos... 7. Preciso de um copo d’água. Preciso ir ao banheiro. Nossa, preciso lixar esta unha! 15 minutos. A folha em branco. Ou quase. Com triângulos e um novo título. Preciso escrever este conto. 1 minuto. Droga. 3 minutos...

Desisto!

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Gentilezas

Há dias em que as coisas não dão certo e o mundo parece divertir-se às nossas custas. Teorias cósmicas conspiratórias parecem fazer sentido, e pensamos: “eu não deveria ter deixado a cama hoje”. Sucessão de eventos desastrosos, ou a mera seqüência de pequenos fatos desagradáveis – quase imperceptíveis aos outros, mas que tomam vulto para nós. O despertador não tocou e estamos atrasados, esquecemos de comprar pão no dia anterior e sairemos de estômago vazio, vamos abrir a porta e ficamos com a maçaneta na mão, não percebemos a chuva insistente que cai lá fora e saímos sem guarda-chuva (se somos mulheres: nossos cabelos ficarão um desastre e isso não é pouca coisa!), um motorista buzina e nos xinga injustamente... Almas mais sensíveis podem deprimir-se por dias por conta de insignificantes eventos do tipo.

Por outro lado, pequenos gestos – também quase imperceptíveis – podem fazer toda a diferença, num dia que parece fadado a findar de forma desanimadora. Um vizinho que nos cumprimenta sorridente, um motorista que nos dá a preferência, o cobrador do ônibus que nos deseja um bom dia, a senhora ao lado que nos lança um olhar afável. Pequenas gentilezas e cortesias certamente não mudam o mundo: mas é inegável que têm o poder de transformar nosso estado de espírito e iluminar um dia cinza. Elas nos ajudam a redimensionar os eventos, a dar a cada coisa a devida importância (no caso, importância nenhuma); nos fazem recordar do que realmente importa.

Agir de forma gentil e cortês para com os demais, porém, nem sempre é simples. Não é fácil nos desnudarmos da postura defensiva que costumamos adotar para nos sentirmos menos vulneráveis ao outro. Vivemos num mundo complexo e plural, onde as mais diferentes culturas, crenças e ideologias convivem – infelizmente, nem sempre de forma pacífica e tolerante. Num ambiente de insegurança e freqüentemente de violência, tendemos a desconfiar da pessoa ao lado, e talvez com razão. O problema é que a postura de regra defensiva acaba por boicotar novos relacionamentos, restringir os contatos, contribuir para o isolamento. E faz com que não enxerguemos o outro.

Pequenas gentilezas não só não custam nada, como podem ser extremamente gratificantes para quem as oferece/pratica, se pensarmos que aquele simples bom dia ou sorriso pode confortar alguém, tornar mais leve um dia difícil. Do porteiro do prédio ao colega de trabalho, do funcionário da padaria ao nosso vizinho, da pessoa ao lado no ônibus às pessoas mais próximas e que conosco convivem diariamente: o companheiro, os pais, os filhos. Com modestas gentilezas cativamos e somos cativados. De pequenos gestos são feitos belos dias.

(Publicado no site Casa da Cultura, em 11/05/2005; e na antologia impressa Novos talentos da crônica brasileira, vol. 4. RJ: Câmara Brasileira de Jovens Escritores, 2006)

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Modismos e rotulagens

Que bom podermos enquadrar os membros da espécie humana em grupos previamente caracterizados e descritos, identificar em nosso colega ou vizinho a pertença a certa tribo, perceber que podemos lhe aplicar um dos tantos rótulos que fabricamos. Fácil, simples. Tranqüilizador. Reduzimos a complexidade do outro e nos sentimos mais confortáveis, seguros. Se quisermos ser gentis com os demais seres humanos e facilitar suas vidas, podemos por livre iniciativa também aplicar a nós mesmos rótulos pré-determinados, esclarecer aos que estão à nossa volta a que grupo pertencemos.

Fazem sucesso novas rotulagens, novas roupagens que nos vistam perante os demais. Os criadores de tendências encontram em nossa sociedade campo fértil onde semear novos termos e modismos, que germinam e disseminam-se de forma espantosa. Afinal, com facilidade enquadramos os demais em um rótulo qualquer, mas não queremos ser enquadrados de forma arbitrária. Queremos ser identificados com aqueles que admiramos, possuidores de características que consideramos atraentes e/ou atuais.

Já estou bem informada da nova tendência comportamental destinada ao público masculino. Não, ser metrossexual não é a coisa mais bacana do mundo. Legal agora é ser tecnossexual, entendendo-se por esse “termo revolucionário” (como definiu um certo site) o homem que “continua carregando o lado feminino aflorado na era da metrossexualidade, mas que dá uma especial relevância aos quebra-galhos da avançada tecnologia que utiliza diariamente”, o que seu criador R. Montalvo definiu como “um ser narcisista e urbano, fascinado pela informática, com um alto nível de vida” (ainda conforme o tal site).

Para fazer par a esse homem - que parece viver sua vida mais em função da aparelhagem tecnológica recém-adquirida do que a usando de forma racional para o seu proveito e o dos demais -, apresenta-se a sua versão feminina, a tecnodiva, a mulher que com naturalidade maneja seus utensílios de última geração, monitora os filhos pelo seu mais novo celular, observa seu rebento brincar na creche através do laptop.

Alguma atenção e esforço impõem-se para demonstrarmos que estamos antenados com o que há de mais atual em termos de moda e comportamento, ou para sermos enquadramos no rótulo que desejamos. Mas o trabalho de absorção de um determinado modo-de-ser pode ser facilitado por sites como o criado por Montalvo, que fornece dicas variadas àqueles que desejam ser identificados, sem hesitação, com o grupo dos narcisistas, consumistas e amantes da tecnologia.

Sim, hoje esses adjetivos são vistos por muitos como algo bastante positivo. Manter relações mais profundas com máquinas do que com nossos semelhantes também. O grau de absorção que tendências desse tipo encontram em nosso meio é considerável, e raro o questionamento a elas dirigido. Os meios de comunicação que transmitem os novos rótulos e modismos de forma irresponsavelmente elogiosa ou mesmo neutra prestam à sociedade um desserviço. Contribuem para propagar a futilidade extrema, a valorização desmesurada do eu. Esperemos que nossos modismos e valores duvidosos sirvam apenas para alimentar o riso das gerações futuras.

(Publicado nos sites Só Cultura, em 21/4/2005, e Canteiros de Obras - Revista Percursos, em 16/10/2006)