quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Quando se perde a humanidade

Seguindo o já tradicional espírito de final de ano e cedendo à tentação das retrospectivas e das listas de “melhores do ano”, atendemos ao chamado feito pelo Portal Literal que convida a responder:

Qual o melhor livro que você leu em 2007?

O bacana desta lista é permitir sair do esquema dos previsíveis “mais vendidos”. A diversidade e o interesse da lista dependerá das contribuições de nós, leitores. Vale do último lançamento ao clássico, não importando o ano de edição. Para participar, vá até o Portal Literal. O resultado deve sair ainda neste mês.

Abaixo confira minha escolha em 2007.

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É isto um homem?
Primo Levi


Rocco, 1988
Original: Se questo è un uomo (Einaudi, 2005)


Há 20 anos da morte de Primo Levi, e 60 da primeira publicação do livro, “É isto um homem” revela-se uma obra sempre atual e de fundamental importância. Quando se deixa de ser humano? Quando se perde toda a humanidade? A terrível realidade dos campos de concentração nazistas evidencia o horror e a barbárie de que o homem é capaz, quando vê o Outro não como sujeito dotado de igual dignidade mas como objeto, não como ser humano mas como coisa a ser suprimida – e assim, quando renuncia também o algoz à sua humanidade. Primo Levi, num misto de diário e de arguta análise sociológica e psicológica, narra em modo notável e preciso a (sobre)vida nos campos de Auschwitz, com o conhecimento de quem sofreu na própria pele e viu com os próprios olhos o período mais negro da história.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Quando qualquer coisa significa qualquer coisa



















Foto: Road Crossing, Gary Heayes, Open Photo


Que dias, os nossos. Quando se pode dizer qualquer coisa significando qualquer coisa. Qualquer coisa significando o seu contrário. É o triunfo da pura retórica.

Os acontecimentos dos últimos dias ilustram profusamente este dizer qualquer coisa significando qualquer outra coisa. E devem preocupar.

Quando “democracia” significa desrespeito de toda regra democrática, ausência de liberdade, boicote à oposição, pretensões ditatoriais envernizadas, nem bem mascaradas. Quando a fala dos “direitos humanos” é usada para justificar a guerra e os interesses econômicos por detrás dela (esta não é nova). Quando as palavras fundamentais de “amor” e “esperança” escondem discursos de intolerância e prepotência.

As efêmeras, delicadas letras, por vezes rebelam-se...