tag:blogger.com,1999:blog-88862586272738775162024-03-05T05:59:36.835-03:00.. efêmeras letras ..experimentos em prosa, tentativas poéticas e leituras compartilhadasLetícia Möllerhttp://www.blogger.com/profile/07174654849592252760noreply@blogger.comBlogger109125tag:blogger.com,1999:blog-8886258627273877516.post-88858865196764097012018-01-12T08:04:00.002-02:002018-01-12T08:05:19.168-02:00Vidas entre as páginas<div style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="-webkit-font-kerning: none;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: xx-small;">Gosto de pensar que é bom presságio encontrar objetos esquecidos entre as páginas de um livro. Como se deparar com um trevo de quatro folhas. Ou encontrar o mini-sonho dentro do sonho de creme, que dava direito a mais um sonho, nos veraneios da infância. É como se o acaso nos sorrisse.</span></span></div>
<div style="line-height: normal; min-height: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: xx-small;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: xx-small;">Os livros novos, com aquele cheiro de recém-impresso, o papel flamejante, as páginas imaculadas, têm um poder de sedução inegável. Mas os livros de segunda mão (ou terceira, ou quarta) trazem consigo, e apenas eventualmente, algo único: vestígios da vida dos leitores entre as suas páginas.</span></span></div>
<div style="line-height: normal; min-height: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: xx-small;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: xx-small;">Ao comprar um livro usado, torço para encontrar dentro dele sinais dos leitores precedentes - para além de capas rasgadas e orelhas nas páginas (estas, na verdade, prefiro que não venham de brinde). E herdeira de muitos livros que pertenceram aos meus avós, sou grata cada vez que abro as páginas e encontro esses vestígios: frases sublinhadas, anotações, um objeto qualquer ali esquecido, ou quem sabe intencionalmente deixado. Já encontrei bilhetes de amigos, cartões de livreiros, papel de bombom Ouro Branco, folhinhas escritas pelo meu avô. São pistas de como eram como leitores, do que pensavam ou faziam enquanto liam, de quais livrarias preferiam. Mais valioso que isso, as marcas deixadas e os objetos encontrados têm o poder de materializá-los diante dos meus olhos, num mergulho em afeto e saudade que reconstrói as muitas conversas que tivemos.</span></span></div>
<div style="line-height: normal; min-height: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: xx-small;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: xx-small;"><span style="font-kerning: none;">O livreiro Federico Valera, também amante dos objetos deixados nos livros, e levando essa paixão bastante a sério, há anos se dedica a recolher tudo aquilo que encontra entre as páginas de velhos livros. Relacionando títulos e autores aos objetos encontrados, organizou uma exposição com uma centena desses pequenos tesouros, na sua livraria e osteria, a Libreria Baravaj e a LibrOsteria, em Milão (que podem ser encontradas no facebook). Além de vender livros raros (na sua própria definição, “libri introvabili, libri che non esistono più, libri scovati nell’immenso catalogo dell’usato”</span><span style="-webkit-font-kerning: none; line-height: normal;"><sup></sup></span><span style="font-kerning: none;">), Valera conserva o testemunho dos leitores passados e os compartilha. São bilhetes de trem, cartões postais, cartas, bilhetes de pai para filho, fotos eróticas, um desenho original de Emilio Tadini, e tanto mais. (na matéria “Le vite degli altri smarrite nei libri”, por Valerio Millefoglie, em Robinson, La Reppublica, 10/12/2017)</span></span></div>
<div style="line-height: normal; min-height: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: xx-small;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: xx-small;">Testemunhos autênticos de vidas passadas ou simples resquícios que provavelmente não levam a nada? Prefiro alimentar a primeira hipótese, embora meu ceticismo contumaz, que tento (quase sempre sem êxito) afogar, leve para a segunda. Até porque, me dói admitir, eu mesma já fui artífice de uma falsa pista escondida dentro de um livro, que deveria levar a um escândalo familiar de proporções desconhecidas.</span></span></div>
<div style="line-height: normal; min-height: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: xx-small;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: xx-small;">Lá pelos 10 anos, minha prima e eu, entediadas num domingo à tarde e sedentas de aventuras para além da segurança e da previsibilidade familiar, redigimos uma carta, com nossa letra infantil que tentava parecer ameaçadora, em que o seu autor, um homem terrível, chantageava nossa avó. Colocamos a carta dentro de um envelope branco e o enfiamos dentro de um livro, em uma estante com centenas deles, para ser encontrado no futuro. Tudo culpa de um desejo novelesco de povoar a nossa infância tranquila com alguma dose de intrigas e emoções. Anos depois, adolescente séria e preocupada, e ainda acreditando que nossa "fraude infantil" fosse capaz de êxito, tentei encontrar a carta para evitar que causasse problemas à minha amada avó. Nunca a encontrei. Ainda deve estar por lá, discretamente exalando seu potencial destrutivo, para ser encontrada por alguém, um dia.</span></span></div>
<div style="line-height: normal; min-height: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: xx-small;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: xx-small;"><span style="font-kerning: none;">À parte esse episódio da infância, decido por cultivar sem reservas o amor pelos testemunhos deixados entre as páginas, desejando acreditar na sua autenticidade e no que podem nos contar sobre o passado. Leituras feitas enquanto se vivia, ou vidas vividas enquanto se lia? A escolha é do freguês. O que importa, para os leitores fascinados pelos objetos esquecidos nos livros, é o sentimento de que "quel fruscio inaspettato, dell'oggetto che casca fuori dal libro, è così carico di vita e di energia da farmi sognare intere esistenze collegate proprio a quel libro…”</span><span style="-webkit-font-kerning: none; line-height: normal;"><sup></sup></span><span style="font-kerning: none;">, como me disse Valera em uma troca de mensagens.</span></span></div>
<div style="line-height: normal; min-height: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: xx-small;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: xx-small;">E me dou conta de que o meu zelo excessivo com os livros faz com que eu não deixe vestígios pessoais, salvo passagens sublinhadas e pequenas anotações nas margens. Então agora, na leitura que faço à sombra das árvores, deixo aqui entre as páginas do livro a folha vermelha brilhante que acabei de ganhar do meu caçula. Folhinha que irá secar e esmorecer e certamente não interessará a ninguém. Mas é um começo. E sabe-se lá o que mais passarei a esquecer entre as páginas daqui para a frente.</span></span></div>
<div style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: xx-small;"><br /></span></span><span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: xx-small;"><br /></span></span></span></div>
<div style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: xx-small;"><br /></span></span></div>
<div style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-kerning: none; font-size: xx-small;"></span></div>
<div style="line-height: normal;">
<span style="-webkit-font-kerning: none;"><i><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: xx-small;"> "Livros que não se encontram, livros que não existem mais, livros descobertos no imenso catálogo do usado”.</span></i></span></div>
<div style="line-height: normal;">
<i><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-kerning: none; font-size: xx-small;"></span></i></div>
<div style="line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><i><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: xx-small;"> “Aquele som inesperado, do objeto que cai para fora do livro, é tão cheio de vida e de energia que me faz sonhar existências inteiras ligadas àquele livro”.</span></i></span></div>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
</span><br />
<div style="line-height: normal; min-height: 11px; text-align: justify;">
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
</div>
<div style="line-height: normal; min-height: 11px; text-align: right;">
<div style="text-align: left;">
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: xx-small;">Letícia Möller</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: xx-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: xx-small;">Publicado originalmente em minha coluna no Artistas Gaúchos, em 11/01/2018</span></div>
</div>
</div>
<div style="line-height: normal; min-height: 11px; text-align: justify;">
</div>
Letícia Möllerhttp://www.blogger.com/profile/07174654849592252760noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8886258627273877516.post-16013621916626741842017-08-29T11:05:00.003-03:002017-08-29T11:05:45.478-03:00O livro, o leitor, o autor: magia de um encontro<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="-webkit-font-kerning: none;">A notícia da possível extinção ou profunda modificação do Programa Adote um Escritor, no âmbito da rede municipal de ensino de Porto Alegre, mobilizou e segue mobilizando não apenas os escritores gaúchos, mas autores de diversos estados brasileiros, professores, educadores, alunos, editores e demais pessoas preocupadas com educação e cultura, que fizeram questão de registrar depoimentos pessoais sobre a importância do programa e a necessidade de sua permanência e proteção.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; min-height: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;">Como já foi bem defendido por muitos, o Adote é um programa exemplar e de referência, e as modificações que a Secretaria de Educação pretende promover, pelo que até agora anunciado, não vêm aperfeiçoar o programa, mas antes torná-lo capenga, retirando de sua dinâmica bem construída elementos determinantes para o pleno êxito do seu objetivo: formar leitores literários, dentro da escola. Crianças que poderão conhecer o amor pelas narrativas e por toda a riqueza que abrigam, que poderão estender este amor aos seus pais e irmãos, que poderão crescer com a companhia dos livros, em progressivo alargamento de horizontes, e ser adultos leitores que sigam multiplicando o amor pela literatura, numa corrente que possa um dia nos tornar uma nação leitora, um país que valoriza verdadeiramente a cultura.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; min-height: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;">Não sou especialista em educação e falo a partir de minhas experiências pessoais de escritora: são elas que me fazem considerar como uma das melhores fórmulas para formar leitores a presença simultânea dos seguintes elementos:</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; min-height: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<ul>
<li style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify;"><span style="line-height: normal;"></span><span style="font-kerning: none;">o livro na mão da criança;</span></li>
<li style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify;"><span style="line-height: normal;"></span><span style="font-kerning: none;">o professor-leitor, entusiasta das narrativas;</span></li>
<li style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify;"><span style="line-height: normal;"></span><span style="font-kerning: none;">boas histórias contadas em palavras e imagens;</span></li>
<li style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify;"><span style="line-height: normal;"></span><span style="font-kerning: none;">escolas que deem suporte e valorizem o professor-leitor;</span></li>
<li style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify;"><span style="line-height: normal;"></span><span style="font-kerning: none;">o autor que vai à escola encontrar seus leitores;</span></li>
<li style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify;"><span style="line-height: normal;"></span><span style="font-kerning: none;">a visita e participação direta da criança em ambientes e eventos culturais e literários.</span></li>
</ul>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; min-height: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;">Programas como o Adote um Escritor, a nível municipal, e o Autor Presente, a nível estadual (Instituto Estadual do Livro/RS), são concebidos de modo a garantir ao menos a maior parte desses elementos. Pretender cortar verbas destinadas aos ônibus para a visita dos alunos à Feira do Livro de sua cidade, e pretender prescindir do livro impresso, na mão da criança, privilegiando a sua experiência de contato com a literatura ao uso de plataformas digitais (o que não significa que estas não possam ser bons complementos na experiência leitora), são equívocos que se configuram como um retrocesso na formação do leitor criança.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; min-height: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;">Escritores que visitam escolas para conversar com as crianças e jovens sabem muito bem, por experiência pessoal e direta, a enorme diferença que é, de um lado, um encontro com alunos que leram previamente um livro do autor, com boa mediação de leitura por parte de sua professora ou professor, discutindo suas questões, personagens e dilemas, realizando atividades lúdicas e reflexivas sobre a narrativa lida, e, de outro lado, um encontro onde nenhum livro do autor foi conhecido pelas crianças, e por vezes tampouco pelos professores.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; min-height: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;">No primeiro caso, tem-se, na quase totalidade das vezes, encontros muito ricos e significativos, de trocas mútuas e aprendizado efetivo, com o poder de despertar ou renovar nas crianças e jovens a paixão pela literatura. Nesses encontros todos saem ganhando, enriquecidos intelectual e afetivamente pela experiência: leitores, autores, professores, comunidade escolar e por vezes também as famílias desses leitores entusiastas, em um contágio salutar e desejável. No segundo caso, tem-se, na maior parte das vezes, um encontro interessante mas certamente menos rico em significados para as crianças. Aqui, não raro, elas são colocadas no auditório da escola, diante de uma pessoa sobre a qual nada conhecem e da qual nada leram, e sem entender bem o que estão fazendo ali. Do autor, espera-se alguma performance capaz de entreter as crianças por um período, quem sabe estimular à leitura, como que por um milagre da sua fala. Desses encontros, as crianças talvez saiam com a ideia de que ouviram alguém supostamente importante falar, alguém que não verão mais e do qual nada lhes ficará; e o autor, por sua vez, talvez saia frustrado, tendo passado por um encontro que poderia ter sido tão profícuo, mas que se revelou desprovido de maior sentido.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; min-height: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;">Assim, junto-me a tantas vozes que, muito melhor que eu, já deram seu depoimento e fizeram a defesa deste que é um programa de importância evidente, que merece ser cuidado, protegido, preservado, possivelmente aprimorado, mas nunca reduzido, simplificado, podado.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; min-height: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; min-height: 13px; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<br />
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: right;">
Letícia Möller</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: right;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: right;">
<i><span style="font-size: x-small;">Texto originalmente publicado em minha coluna </span></i></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: right;">
<i><span style="font-size: x-small;">no Portal Artistas Gaúchos, </span></i><i style="-webkit-text-stroke-width: initial;"><span style="font-size: x-small;">agosto/2017</span></i></div>
<div>
<span style="font-kerning: none;"><br /></span></div>
Letícia Möllerhttp://www.blogger.com/profile/07174654849592252760noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8886258627273877516.post-81306585567225651052017-05-05T17:13:00.002-03:002017-05-05T17:13:22.577-03:00Estudo e(m) liberdade<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; min-height: 15px;">
<span style="-webkit-text-stroke-width: initial; font-size: large; text-align: justify;">Itália, 2014. No Festival della Mente, evento europeu dedicado à criatividade que acontece anualmente em Sarzana, litoral da Ligúria, a renomada escritora e professora Paola Mastrocola lança a provocação: o estudo desapareceu.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; min-height: 15px; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-size: large;">Em conferência intitulada justamente <i>La sparizione dello studio</i>, Mastrocola observa, com a bagagem de quem lecionou por mais de 20 anos no ensino básico, que se estuda cada vez menos. O hábito do estudo sumiu das escolas e das vidas de crianças e jovens. A imagem de um garoto debruçado sobre um livro, mergulhado na leitura, concentrado e por um momento esquecido de tudo mais, esta imagem estaria em franca extinção.</span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; min-height: 15px; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-size: large;">Ninguém fala no estudo, hoje. "Ninguém se importa”, aponta Mastrocola. Os jornais, a televisão e outras mídias não falam no estudo. E o mais preocupante, as escolas também não. Por paradoxal que possa parecer (e é), a própria palavra estudo foi afastada do mundo escolar. Escola e estudo não são mais expressões de óbvia e obrigatória conexão.</span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; min-height: 15px; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-size: large;">É como se falar no estudo fosse levantar um assunto aborrecido ao extremo. "Parece um assunto de velhos”, diz Mastrocola. Toleramos que os alunos vão a escola e não estudem. Não queremos perturbá-los muito com essa história de imersão nos livros. Afinal, estudar parece ser a antítese do divertimento. E queremos que nossos filhos e alunos se divirtam em tempo integral. Não queremos aborrecê-los, queremos entretê-los.</span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; min-height: 15px; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-size: large;">Esse grave diagnóstico do cenário escolar italiano nos reporta ao nosso contexto brasileiro. E aqui não vamos pensar apenas no ensino básico (do qual reconheço não estar tão próxima para fazer afirmações fortes): vou ousar dizer que o estudo também está desaparecido do ensino universitário. </span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; min-height: 15px; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-size: large;">O que se pode ver é uma soma de ausência de iniciativa própria dos alunos ao estudo, por um lado, e a preocupação crescente das instituições de ensino em não entediar os alunos e não exigir muito esforço, por outro. Especialmente nas instituições privadas, a voz do aluno-cliente tem um peso quase definitivo, o que leva desgraçadamente a que essas entidades se preocupem prioritariamente em os acontentar e agradar. Nada de grandes exigências, nada de solicitar grandes leituras. Os professores devem ser dinâmicos e performáticos, capazes de manter a atenção de alunos pouco ou nada propensos à concentração e à profundidade. Uma atenção leve e divertida, sem o peso do esforço presente em realmente conhecer, compreender, contextualizar, problematizar.</span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; min-height: 15px; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-size: large;">A verdade é que hoje todos nós, jovens e adultos, priorizamos outras coisas. Vivemos um período de aumento de possibilidades (de entretenimento, de acesso à cultura, de informação) e de aumento do nível de consumo, se comparado a décadas atrás. A internet e o mundo que ela descortina estão permanentemente na palma da nossa mão. E tudo isso traz coisas belas e também avanços, aprimoramentos, democratizações. </span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; min-height: 15px; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-size: large;">Porém, é inegável que a competição com o velho hábito do estudo e da leitura é ferrenha e desleal (se tudo está na internet, por que devo me esforçar em saber?). E isso talvez por culpa da mentalidade que nós mesmos ajudamos a criar e cultivar: quando nos preocupamos essencialmente em nos entreter e nos manter superficialmente ocupados, com coisas rasas que nos alienem, nos aliviem do cotidiano e não sobrecarreguem nossas mentes fatigadas. Quando valorizamos as celebridades sem conteúdo, cultuamos os famosos de ocasião e damos vivas à mediocridade. E assim tristemente nos enquadramos na definição de Vargas Llosa de sociedade do espetáculo.</span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; min-height: 15px; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-size: large;">Vivemos também uma época de descrença nos resultados que se pode colher com o esforço do estudo. Mastrocola novamente aponta que não mais acreditamos no estudo como gerador de trabalho: a ideia de que se eu estudar, automaticamente conseguirei uma boa colocação no mercado de trabalho e estarei garantido por toda a vida. E essa é uma outra questão grande demais para incluir aqui. De todo modo, podemos nos perguntar: deve ser esta a função principal do estudo?</span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; min-height: 15px; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-size: large;">Estudamos guiados por utilidade somente? Mais do que uma utilidade prática determinada, o estudo serve para nos enriquecer e aprimorar enquanto indivíduos e cidadãos, e antes de mais nada ele deve servir para <b>nos tornar livres</b>. Livres para sermos quem queremos ser, para desenvolvermos nossa personalidade e visão de mundo em múltiplas direções.</span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; min-height: 15px; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-size: large;">Estudo e liberdade. Estudo para a liberdade. E também estudo <i>em</i> liberdade. Diante do cenário escolar pouco favorável para o estudo aprofundado (pois se deve estudar com pressa, de modo fragmentado e na base de esquemas), é preciso lutar pela liberdade de verdadeiramente estudar.</span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiL8QZW4XqU10_jov_ruJWc8hyphenhyphenWYnAi2xTyOpmFaFHdyPcT98vQXs64dQSRyZC75Yu_QJXqAEDx2ti8INFn7LjvO_m-pDLux1QU_r_cqH89sg6iaoxLG-F1E6_ghlACka_ogMSHqjVfmrY/s1600/Homem+lendo+ao+sol.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiL8QZW4XqU10_jov_ruJWc8hyphenhyphenWYnAi2xTyOpmFaFHdyPcT98vQXs64dQSRyZC75Yu_QJXqAEDx2ti8INFn7LjvO_m-pDLux1QU_r_cqH89sg6iaoxLG-F1E6_ghlACka_ogMSHqjVfmrY/s320/Homem+lendo+ao+sol.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; min-height: 15px; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-size: large;">Mastrocola defende <b>6 liberdades para o estudo</b> - como ela diz, correndo o risco de ser chamada de velha nostálgica por querer salvar esta coisa anacrônica:</span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; min-height: 15px; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<ol>
<li style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: Helvetica; line-height: normal;"></span><span style="font-kerning: none;">A liberdade de ler livros inteiros;</span></span></li>
<li style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: Helvetica; line-height: normal;"></span><span style="font-kerning: none;">A liberdade de se levar o tempo que quiser, estudando;</span></span></li>
<li style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: Helvetica; line-height: normal;"></span><span style="font-kerning: none;">A liberdade de não produzir nada depois de se ler ou estudar, até mesmo por anos;</span></span></li>
<li style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: Helvetica; line-height: normal;"></span><span style="font-kerning: none;">A liberdade de se concentrar sobre um único ponto, ideia ou argumento, e aprofundá-lo;</span></span></li>
<li style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: Helvetica; line-height: normal;"></span><span style="font-kerning: none;">A liberdade de se fechar para o mundo;</span></span></li>
<li style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; margin: 0px; text-align: justify;"><span style="font-size: large;"><span style="font-family: Helvetica; line-height: normal;"></span><span style="font-kerning: none;">A liberdade de divagar na vertical: aprofundar-se sempre mais, buscando as referências do autor, e as referências das referências, sempre mais fundo.</span></span></li>
</ol>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; min-height: 15px; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-size: large;">Um luxo para poucos? Desejo, talvez ingenuamente, que não. Que o estudo em liberdade e para a liberdade possa se tornar direito e realidade na vida de todos nós. Que após um inverno prolongado do estudo desabroche uma primavera sedutora e permanente de amor pelos livros e pelo conhecimento. </span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; min-height: 15px; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"><b>Links</b>:</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;">Site do Festival della Mente: <a href="http://www.festivaldellamente.it/"><span style="-webkit-font-kerning: none; line-height: normal;">www.festivaldellamente.it</span></a></span></div>
<br />
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="-webkit-font-kerning: none;">Conferência <i>La sparizione dello studio</i>, de Paola Mastrocola: <span style="-webkit-font-kerning: none; line-height: normal;"><a href="https://youtu.be/irDSf2JS-fY">https://youtu.be/irDSf2JS-fY</a></span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="-webkit-font-kerning: none;"><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; text-align: right;">
<i><br /></i></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; text-align: right;">
<i>Texto publicado originalmente em minha coluna</i></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; text-align: right;">
<i>no Portal Artistas Gaúchos,</i></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: 'Times New Roman'; line-height: normal; text-align: right;">
<i>em 04 de maio de 2017.</i></div>
Letícia Möllerhttp://www.blogger.com/profile/07174654849592252760noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8886258627273877516.post-59872427220192795262017-02-03T10:28:00.001-02:002017-02-03T10:28:30.872-02:00Andei lendo...Pó de Parede, Carol Bensimon<br />
Profissões para mulheres e outros artigos feministas, Virginia Woolf<br />
Nas tuas mãos, Inês Pedrosa<br />
Cenas mínimas (poesia), Maria do Carmo Campos<br />
Osmose: Brasil e Alemanha em Quadrinhos, vários autores<br />
O filho de mil homens, Valter Hugo Mãe<br />
Autoimperialismo (ensaios), Benjamin Moser<br />
O pequeno herói, Dostoiévski<br />
Submissão, Michel Houellebecq<br />
A outra praia, Gustavo Nielsen<br />
Carolina (HQ sobre vida e obra de Carolina Maria de Jesus), Sirlene Barbosa e João Pinheiro<br />
O duelo, Anton Tchekhov<br />
Longe das aldeias, Robertson Frizero<br />
<br />
E estou lendo...<br />
<br />
Flores artificiais, Luiz Ruffato<br />
<br />
* * *Letícia Möllerhttp://www.blogger.com/profile/07174654849592252760noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8886258627273877516.post-82315505082985187412017-01-02T15:56:00.002-02:002017-01-02T15:58:17.319-02:00Do que a literatura me fez lembrar nesta virada de ano<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="-webkit-font-kerning: none;">Para a última semana do ano, passada na quietude das montanhas, peguei três livros meio que ao acaso e os pus na mala sem pensar muito. Um porque comprado há meses na promessa de ser prioridade, outro pela curiosidade de descobrir a voz do autor, mais o outro porque deparei com ele na estante atrevido, se convidando. Não nessa ordem, foram assim eleitos O filho de mil homens, de Valter Hugo Mãe, os ensaios de Autoimperialismo, de Benjamin Moser, e Um pequeno herói, novela de Dostoiévski.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="-webkit-font-kerning: none;"><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;">Li no ritmo de antigamente, entenda-se, no meu ritmo de antigamente ter 15, 23 anos. Li que devorava páginas e mergulhava entre frases e quase perdia noção de quando e onde. Um ler veloz e profundo ao mesmo tempo, daqueles que há muito eram ausência.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;">Para mim que sou mais feliz no mergulho solitário que nas formas convencionais de passar férias, foi um belo modo de ver o ano se esvair nas promessas do novo ano (mais nos desejos que nas promessas, na verdade). Que não foi só de leitura o fim do ano, tenho que acrescentar. Imersões nos livros foram até que bem intercaladas com momentos de convívio muito amigo e prazeroso. Respiros bem-vindos para novo submergir em águas fundas.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;">Foram águas cristalinas, não turvas, de bom augúrio para o ano que inicia. A literatura desenhando imagens do que pode vir a ser se razão e emoção cultivarem bondade, coragem, esperança e amor à beleza.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;">Nesta virada de ano, a literatura me lembrou que a bondade pode sobreviver ou florescer até mesmo nos ambientes mais hostis. Que é preciso coragem para vencer em meio ao preconceito arraigado em mentes toscas, mas que se pode vencer. Que o amor suaviza arestas e diferenças. Como aconteceu com Crisóstomo e Isaura, com Antonino e Matilde, no romance de Hugo Mãe. Que a dignidade e a pureza de sentimentos são valores a defender com unhas e dentes contra a vilania, a hipocrisia, a inveja e a mediocridade, como fez o pequeno herói de Dostoiévski.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;">Com Moser, que é preciso lutar pela beleza, que não é capricho, mas necessidade humana. Que a feiúra das cidades abriga uma feiúra moral, e que esta sim é mais difícil de a gente se livrar (mas não podemos perder a esperança). Que importam as pessoas, mais que prédios, shopping centers, monumentos grandiosos, projetos ambiciosos ou conceitos tão geniais quanto vazios de sentido.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;">A literatura é fantástica por muitas razões, e dentre elas podemos dizer que é fantástica pelo poder de nos despertar do torpor, por dar alento à tristeza e à desesperança, por ajudar a corrigir rumos, lembrar do que importa, inflar nosso peito de valentia. </span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;">Que em 2017 as histórias e as ideias, as narrativas e os ensaios, renovem nosso espírito adoecido nos acontecimentos deste ano sombrio que enfim nos deixa. Que nos tornem plenos de amor, coragem e esperança. Que possamos seguir na construção de nossa própria história, nos deixando conduzir por honestidade de intenções e sentimentos, pela empatia pelo outro, pela beleza de nossos atos e pela confiança em nossa capacidade de sermos melhores do que somos.</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; min-height: 14px; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: right;">
<span style="font-kerning: none;">Canela, 31 de dezembro de 2016</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: right;">
<span style="font-kerning: none;"><br /></span>
<span style="font-kerning: none;">Letícia Möller</span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; min-height: 13px; text-align: right;">
<span style="font-kerning: none;"></span><br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: right;">
<span style="font-kerning: none; font-size: x-small;"><i>Publicado originalmente em minha coluna</i></span><br />
<i><span style="font-size: x-small;"><span style="font-kerning: none;">no Portal Artistas Gaúchos, </span>em 02/01/2017</span></i></div>
Letícia Möllerhttp://www.blogger.com/profile/07174654849592252760noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8886258627273877516.post-46990772303797078742016-09-25T08:18:00.000-03:002016-09-25T08:18:00.031-03:00Andei lendo...Nos últimos tempos, andei lendo:<br />
<br />
<i>Damas da noite</i>, de Edgar Telles Ribeiro<br />
<i>Una mutevole verità</i>, de Gianrico Carofiglio<br />
<i>Farenheit 451</i>, de Ray Bradbury<br />
<i>Elogio da leitura</i>, de Mario Vargas Llosa<br />
<i>Como curar um fanático</i>, de Amós Oz<br />
<i>Poemas</i>, de Mario Quintana<br />
<i>Os anos de aprendizagem de Wilhem Meister</i>, de Goethe<br />
<i>Paisagem de porcelana</i>, de Claudia Nina<br />
<i>Por que fazemos o que fazemos</i>, de Mario Sergio Cortella<br />
<br />
* * *Letícia Möllerhttp://www.blogger.com/profile/07174654849592252760noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8886258627273877516.post-43483640974876637352016-05-19T16:46:00.003-03:002016-05-19T16:53:12.449-03:00Curtir lá fora<div style="line-height: normal; text-align: justify;">
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal;">
<span style="-webkit-font-kerning: none;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Semana vai, semana vem, os dias se sucedem velozes e a vida segue no piloto automático.</span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal; min-height: 13px;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Olhos e mentes estão captados pelas tarefas a cumprir, como numa gincana maluca, e pelo canto sedutor da telinha do smartphone. Mergulho hipnótico de um ritual diariamente repetido, o dedo rola notícias, fotos, boatos, bobagens e fúrias, tendo os olhos por cúmplices fiéis e constantes.</span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal; min-height: 13px;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Que falta da rua, da vida lá fora.</span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal; min-height: 13px;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Quando adolescente, na distante era pré-telefonia móvel e pré-rede social, costumava andar de ônibus e me deslocar a pé. Eram momentos de prazer, ao mesmo tempo de interação e solidão, ação e contemplação. </span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal; min-height: 13px;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A cabeça encostada no vidro, sacolejando, a espiar a vida logo ali. A eleger as casas favoritas, a memorizar o pequeno comércio, a observar pessoas e imaginar suas histórias. A criar narrativas mentalmente. </span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal; min-height: 13px;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Os passos na rua, o contato humano próximo, os cheiros, sons e cores. Perceber de perto as belezas e as mazelas da cidade, sentir-se parte integrante de um todo.</span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal; min-height: 13px;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Hoje agimos mais e contemplamos menos. Interagimos às pencas no mundo digital, mas estamos também mais sozinhos, fisicamente mais isolados.</span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal; min-height: 13px;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Hoje o olhar não se perde. Hoje os pés não passeiam quase. Hoje a mente não divaga tanto.</span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal; min-height: 13px;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Hoje pego táxis e me surpreendo ao chegar ao destino. Ignorei o caminho, o olhar baixo focando a tela.</span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal; min-height: 13px;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A cada dia olhamos menos ao redor.</span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal; min-height: 13px;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A cada dia nosso olhar se torna mais opaco e cansado.</span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal; min-height: 13px;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A cada dia vamos menos para a rua.</span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal; min-height: 13px;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A cada dia andamos menos nas calçadas.</span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal; min-height: 13px;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A cada dia nos resignamos mais facilmente ao confinamento, renunciando ao espaço público.</span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal; min-height: 13px;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A cada dia nos brutalizamos um pouco mais.</span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal; min-height: 13px;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Tenho saudade do tempo longo, do tempo da espera e da contemplação. Do tempo das visitas e das conversas olho no olho. Das coisas simples e palpáveis, como um bolo quentinho, um telefonema de amigo, um bilhete escrito à mão, uma folga sem culpa, um bocejo sem preocupação. (sou uma saudosista, confesso)</span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal; min-height: 13px;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O mundo na palma da mão é tentador, mas nos afasta do mundo fisico, concreto. </span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal; min-height: 13px;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Não olhar para fora, não estar na rua, não estar em meio aos outros e com os outros, nos empobrece subjetiva e coletivamente. </span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal; min-height: 13px;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">É uma dura perda para o valor que tem a constante reflexão sobre os sentidos profundos da nossa vida. Contemplar, observar, transitar, estar com os outros, nos permite construir significações valiosas ao que nos cerca. </span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal; min-height: 13px;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Mas não só. É ainda uma perda grave para a cidadania. O olhar para a vida na rua, para o mundo lá fora, nos aprimora como cidadãos. Apartados, confinados e passivos, perdemos muito, construimos pouco, não colaboramos.</span></span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal; min-height: 13px;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-kerning: none;"></span><br /></span></div>
<span style="-webkit-font-kerning: none;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif; font-size: xx-small;">
</span></span><br />
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; line-height: normal;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Quero curtir menos posts e curtir mais lá fora. Romper com vícios sem sentido e ressignificar o que me rodeia. Desfazer as amarras da tecnologia e seu ritmo desumano. Encontrar mais pessoas ao vivo e a cores. Renovar meu tempo, meu ser e meu olhar.</span></span><br />
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></span>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>Letícia Möller</b></span></span></div>
</div>
<div style="font-family: helvetica;">
<span style="font-kerning: none;"><br /></span></div>
</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; line-height: normal; text-align: justify;">
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-size: xx-small;"><br /></span></span></div>
<div style="line-height: normal; text-align: right;">
<span style="-webkit-font-kerning: none;"><span style="font-size: xx-small;"><i><span style="font-family: "helvetica"; font-size: x-small;"><span style="-webkit-text-stroke-width: initial;">Texto originalmente publicado em minha </span>coluna</span></i></span></span><br />
<span style="font-size: x-small;"><span style="-webkit-font-kerning: none;"><span style="font-size: xx-small;"><i><span style="font-family: "helvetica";">no Portal Artistas Gaúchos, </span></i></span></span><i><span style="font-family: "helvetica";">abril de 2016.</span></i></span></div>
<div>
<span style="font-kerning: none;"><span style="font-size: xx-small;"><br /></span></span></div>
<div>
<br /></div>
Letícia Möllerhttp://www.blogger.com/profile/07174654849592252760noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8886258627273877516.post-29696289851808450932016-04-27T05:51:00.002-03:002016-04-27T05:52:01.012-03:00Andei lendo...Nos últimos tempos, andei lendo...<br />
<br />
Nihojin (Oscar Nakasato)<br />
A civilização do espetáculo: uma radiografia do nosso tempo e da nossa cultura (Mario Vargas Llosa)<br />
A nascente, vol. 1 (Ayn Rand)<br />
A nascente, vol. 2(Ayn Rand)<br />
Um mapa todo seu (Ana Maria Machado)<br />
Lugares mágicos: os escritores e suas cidades (Fernando Savater)<br />
Morreste-me (José Luís Peixoto)<br />
Guerra no Bom Fim (Moacyr Scliar)<br />
<br />
* * *Letícia Möllerhttp://www.blogger.com/profile/07174654849592252760noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8886258627273877516.post-78978918889868137032016-02-19T16:39:00.001-02:002016-02-19T16:39:13.779-02:00Olhar de criança<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; text-align: right;">
<i>Deixa-te levar pelo menino que foste</i> (J. Saramago)</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; min-height: 12px; text-align: right;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; min-height: 12px; text-align: right;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; text-align: justify;">
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Ser mãe, pai ou ter uma criança por perto é relembrar aquele olhar. O olhar que um dia também foi nosso. Despido de vícios, desconfianças e pré-julgamentos. Olhar aberto e sedento por captar o mundo.</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; min-height: 13px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; text-align: justify;">
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>A criança é movida pela curiosidade e interessa-se por tudo o que a cerca. Cada passo traz novas descobertas e novos fascínios. As formigas, os gravetos, o pó que reluz ao sol. A tampa do pote, a dobradiça, o algodão. O mínimo, o minúsculo, tudo aquilo que se tornou opaco para o olhar adulto. Coisas prosaicas, pequenos tesouros.</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; min-height: 13px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; text-align: justify;">
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Quem escreve para crianças esforça-se por resgatar este olhar. Fixa a tela em branco enquanto procura diluir a razão arrogante que orienta os dias em boas doses do encantamento simples, direto e puro do olhar infantil. Simples porque sem frescuras, direto porque sem rodeios, puro porque livre de preconceito.</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; min-height: 13px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; text-align: justify;">
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Recuperar o olhar de criança, porém, não é fácil. Mas alguns escritores e poetas parecem simplesmente nunca tê-lo perdido. É o caso de Manoel de Barros e de Mario Quintana, para ficar em dois exemplos bastante conhecidos. Em “Lili inventa o mundo”, Quintana nos brindou com maravilhas do olhar infantil, mostrando que tinha muito viva dentro de si a criança que um dia fora:</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; min-height: 13px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; text-align: justify;">
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>“O hipopótamo é um bruto sapatão afogado”.</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; text-align: justify;">
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>“O gato é preguiçoso como uma segunda-feira”.</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; text-align: justify;">
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>“As pulgas saltam tanto porque também têm pulgas”.</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; text-align: justify;">
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>“A esperança é um urubu pintado de verde”.</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; min-height: 13px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; text-align: justify;">
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>E talvez a mais linda delas:</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; text-align: justify;">
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>“Sonhar é acordar-se para dentro”.</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; min-height: 13px; text-align: justify;">
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; min-height: 13px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; text-align: justify;">
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Nessa busca do escritor pelo olhar infantil, é precioso o pequeno volume de Javier Naranjo, “Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças”, lindamente ilustrado por Lara Sabatier e editado no Brasil pela Foz.</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; min-height: 13px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; text-align: justify;">
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Naranjo, escritor e professor colombiano do ensino primário, dá voz aos seus alunos, compartilhando conosco as suas palavras e o modo como as crianças definiram, em atividades de sala de aula, não apenas coisas tangíveis, mas também sentimentos e conceitos mais abstratos. Palavras e definições que revelam o olhar infantil sobre o amor, o ódio, o sol, a escuridão, o tempo, a morte, a família, a mãe, o pai, o louco e até mesmo o poeta.</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; min-height: 13px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; text-align: justify;">
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>O poeta é “alguém que descobriu algo no mundo” para Nelson, de 9 anos; é “qualquer pessoa que voa pelo ar”, para Sandra, de 7. A pessoa é uma coisa humana, a guerra é ficar com a vida uma bagunça. Água é a transparência que se pode tomar. Vazio é sem ninguém dentro. Ódio é quando não queremos fazer o que mandam. Medo é quando chega alguém lá em casa e eu levanto para ver quem é. Morte é uma coisa que não volta. Tempo é esperar os outros.</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; min-height: 13px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; text-align: justify;">
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>As palavras das crianças trazidas pelo livro emocionam, nos fazem rir e chorar. Talvez pela saudade da criança que fomos, talvez pela vontade de simplesmente resgatar aquele olhar. Deixar-se encantar pelo mundo, apesar de tudo: dos horrores vários, do tédio, da falta de sentido. Redescobrir a alegria de explorar e conhecer, de sentir com os dedos e com a alma.</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; min-height: 13px; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; text-align: justify;">
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span>Fundir o nosso olhar cotidiano com o jeito de ver o mundo das crianças não é uma experiência importante apenas para quem escreve literatura infantil, mas pode ser para lá de interessante e fonte de prazer para qualquer pessoa, ajudando a espanar o pó das nossas retinas, renovando o olhar e criando novos significados.</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; text-align: right;">
<b>Letícia Möller</b></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; text-align: right;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; text-align: right;">
<i><span style="font-size: x-small;">Texto originalmente publicado em minha coluna </span></i></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Helvetica; text-align: right;">
<i><span style="font-size: x-small;">no Portal Artistas Gaúchos, em fevereiro de 2016.</span></i></div>
<div>
<br /></div>
Letícia Möllerhttp://www.blogger.com/profile/07174654849592252760noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8886258627273877516.post-56528451981802645322016-01-25T15:18:00.002-02:002016-01-25T15:18:32.137-02:00A criança que fomos nos espia<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Verdana; font-size: 12px; text-align: justify;">
Caminho na calçada de pedras com seus desenhos geométricos bicolores, pisando forte e apressada. As pernas cumprem seu papel como autômatas, a mente lá na frente, na outra esquina, nas tarefas do dia.</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Verdana; font-size: 12px; min-height: 15px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Verdana; font-size: 12px; text-align: justify;">
Não é uma rua qualquer, nem um trajeto irrelevante. É o cenário da minha infância, e embora ela não tenha se passado toda aqui, por alguma razão é o retrato daqueles tempos, da menina que eu fui um dia, a vida em seus primeiros passos.</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Verdana; font-size: 12px; min-height: 15px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Verdana; font-size: 12px; text-align: justify;">
Muitos anos se passaram e eu voltei para cá, me vi de volta ao cenário que nesses anos idealizei e protegi com pinceladas doces e cuidadas. O retorno foi ao mesmo tempo belo e estranho. Belo refazer meus caminhos de menina, agora com meus filhos. As idas à mesma praça, o armazém intocado, a estátua do leão, mesmo que em meio a muitas novidades e outros tantos desaparecimentos. Reatar o diálogo com o passado e brincar de repeti-lo, ser mãe e menina, misturado. Estranho, também. O passado se tornando cada vez mais presente, cristalizando as horas e os dias, num jogo de eterna imobilidade: ontem-hoje-sempre.</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Verdana; font-size: 12px; min-height: 15px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Verdana; font-size: 12px; text-align: justify;">
Preciso lançar minha flecha lá para frente, me desenredar dos fios dourados de um passado que começa a dominar o presente, sufocar o futuro. Corto minha autocondescendência, meus pensamentos em espiral, disciplina militar agora. Apito e marcho decidida, mais faço do que contemplo, realizo mais e idealizo menos, cumpro metas e afogo devaneios.</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Verdana; font-size: 12px; min-height: 15px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Verdana; font-size: 12px; text-align: justify;">
Passo friamente pela rua encantada da minha infância. Piso indiferente a mesma calçada, que quando criança percorria poeticamente, seguindo o zigue-zague, cuidando para não pisar fora do desenho. Não lanço olhares saudosos para o prédio do outro lado da rua. Me orgulho do meu inédito desapego, o assassinato da nostalgia. Sou uma criatura prática agora, preocupada com o concreto do instante, as contas a pagar, o currículo a preencher, os olhos no futuro.</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Verdana; font-size: 12px; min-height: 15px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Verdana; font-size: 12px; text-align: justify;">
O tempo segue. É um dia qualquer de outono. Percorro o trajeto habitual, as pernas autômatas, a mente lá na frente. Estou sozinha, as crianças nas suas atividades de escola. A luz amarela se infiltra por entre os jacarandás. O colorido remete ao passado, incontrolavelmente. Tento evitar, mas não consigo deixar de lançar um olhar de esguelha para o outro lado da rua. Congelo o olhar e o passo. Nas janelas amplas do segundo andar, uma menina magrinha de cabelos longos observa a rua. Está alheia à mulher imobilizada na calçada como quem vê um fantasma.</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Verdana; font-size: 12px; min-height: 15px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Verdana; font-size: 12px; text-align: justify;">
O passado retorna com força. Me sinto pequena e frágil. Mulher adulta que fingiu crescer, que precariamente aprendeu a vestir suas máscaras para entrar no jogo de ir, fazer e vencer. Mas que agora parece sem rumo, as máscaras caídas diante daquela menina imperturbável nos seus sonhos, confiante nos seus desejos. Não quero que ela me veja. O quem pensará a meu respeito? Terá ela me observado nesses tempos de marcha apressada e fria?</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Verdana; font-size: 12px; min-height: 15px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Verdana; font-size: 12px; text-align: justify;">
Receio o seu julgamento. Ela sabe o que quer e o que a apaixona. Cultiva a imaginação, a poética do cotidiano, os devaneios em espiral. Ela sabe que eles levam a lugares valiosos, ela parece conhecer os caminhos. E eu, eu me sinto despojada das armas do sonho e ignorante dos caminhos. Desaprendi a ser aquela menina. Vem uma vontade de chorar.</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Verdana; font-size: 12px; min-height: 15px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Verdana; font-size: 12px; text-align: justify;">
Passo de cabeça baixa, sem espiar. Mas enfim sinto que ela pousa seu olhar sobre mim com ternura, como quem diz: está tudo bem. Agarra esses fios da infância, eles te levarão a lugares incríveis ao longo da tua caminhada. Lembra apenas de não te enredar, não te perder aqui no que já foi. O que será pode ser tão lindo como o que passou. Carrega contigo a memória como carga leve e renovadora. Não tenha medo de sonhar como uma menina. Nem tenha medo do futuro.</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Verdana; font-size: 12px; min-height: 15px; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Verdana; font-size: 12px; text-align: justify;">
A brisa balança os jacarandás, deixa cair algumas folhas. Um pequinês que passa cheira a minha perna, a dona puxa a coleira. Na banca de revistas as pessoas se aglutinam, entre fumaça e copos plásticos de café. O zelador do prédio de consultórios varre as folhas com movimentos preguiçosos. O bebê no seu carrinho adormece. A vida segue, não muito diferente do que sempre foi. Tenho vontade de andar em zigue-zague sobre as pedras bicolores, mas ainda estou acanhada. Encho o peito, ergo a cabeça, me viro para o segundo andar do outro lado da rua. A menina se foi. Então olho em frente e sigo.</div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Verdana; font-size: 12px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Verdana; font-size: 12px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Verdana; font-size: 12px; text-align: right;">
<b>Letícia Möller</b></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Verdana; font-size: 12px; text-align: right;">
<br /></div>
<div style="-webkit-text-stroke-color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-stroke-width: initial; font-family: Verdana; text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">Texto modificado do original publicado em minha coluna no Portal Artistas Gaúchos, em 17 de agosto de 2015.</span></div>
Letícia Möllerhttp://www.blogger.com/profile/07174654849592252760noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8886258627273877516.post-43223595418211123082015-08-19T09:38:00.000-03:002015-08-19T09:38:08.686-03:00Andei lendo...Nos últimos tempos, andei lendo:<br />
<br />
A disciplina do amor, de Lygia Fagundes Telles<br />
O escritor e seus fantasmas, de Ernesto Sabato<br />
Vapore, de Marco Lodoli<br />
O beijo na parede, de Jeferson Tenório<br />
Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf<br />
Dez (quase) amores, de Claudia Tajes<br />
<br />
E estou lendo:<br />
O punho e a renda, de Edgar Telles Ribeiro<br />
<br />
* * *Letícia Möllerhttp://www.blogger.com/profile/07174654849592252760noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8886258627273877516.post-63484026361657836582015-08-17T08:44:00.000-03:002015-08-17T08:53:22.377-03:00Os peixes, o vovô e o tempoMeu novo livro infantil, editado pela Libretos, com lindas ilustrações da Carla Pilla!<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHFg2QqeBbV5Wf1uAkkCmk0W2jHKcdabl3d5TaJqGhQosMTNFPCXfXlTLUOzr9lIygNsrmAe_07msSgtJMOrNya7o6RWlu0dn6nrMiZHTJizM-3aw4ZUnVevGsiqu2jNoY1u4IiQGtCqM/s1600/Capa+os+peixes%252C+o+vov%25C3%25B4+em+alta.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHFg2QqeBbV5Wf1uAkkCmk0W2jHKcdabl3d5TaJqGhQosMTNFPCXfXlTLUOzr9lIygNsrmAe_07msSgtJMOrNya7o6RWlu0dn6nrMiZHTJizM-3aw4ZUnVevGsiqu2jNoY1u4IiQGtCqM/s400/Capa+os+peixes%252C+o+vov%25C3%25B4+em+alta.jpg" width="287" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
CONHEÇA UM POUCO MAIS:</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Helô é uma menina sensível e curiosa. Quando o peixinho
dourado que muito amava morre, Helô toma uma atitude por impulso e emoção que
desconcerta seus familiares. Magoada e sem saber se o que fez é ou não errado,
a menina busca refúgio na casa do vô Emilio. A conversa, o aconchego, o ouvido
atento e as palavras de carinho e sabedoria do avô irão confortar Helô e
fazê-la compreender algumas coisas sobre a perda e a finitude, ao mesmo tempo
em que percebe a força e a beleza da memória, que eterniza aqueles que amamos.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
* * *</div>
Letícia Möllerhttp://www.blogger.com/profile/07174654849592252760noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8886258627273877516.post-38205874322118825802015-06-12T09:28:00.002-03:002015-06-12T09:28:30.905-03:00Livro novo! Pré-lançamento na Feira do Livro de Gramado<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3eKz-TzV6FzxmyuOh2gTTILWyqdaPMC_HjzShjElahHnjJofr_VBHLMz8_i-PAzSXBrjFkmrNerWlisuTSj76VoJojBAszsmbb5Wc7t4CQIJ-De1icB75RlpMNqukQFWmcb3tzrPEHoQ/s1600/convite+PEIXES+Feira+de+Gramado.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3eKz-TzV6FzxmyuOh2gTTILWyqdaPMC_HjzShjElahHnjJofr_VBHLMz8_i-PAzSXBrjFkmrNerWlisuTSj76VoJojBAszsmbb5Wc7t4CQIJ-De1icB75RlpMNqukQFWmcb3tzrPEHoQ/s640/convite+PEIXES+Feira+de+Gramado.jpg" width="464" /></a></div>
<br />Letícia Möllerhttp://www.blogger.com/profile/07174654849592252760noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8886258627273877516.post-22713354046365534372015-05-02T08:48:00.001-03:002015-05-02T08:51:38.287-03:00Andei lendo...Nos últimos tempos, andei lendo pouco e trabalhando muito...<br />
Acho que em toda a minha vida, ao menos desde os 9 anos, nunca li tão pouco - leituras literárias, diga-se. Muita leitura de trabalho e preparação de aulas.<br />
Segue uma listinha, resgatada precariamente de uma mente cansada:<br />
<br />
- Tomo conta do mundo, Diana Corso;<br />
- El fin de los libros, Octave Uzanne;<br />
- O senhor das moscas, William Golding;<br />
- A literatura em perigo, Tzvetan Todorov;<br />
- A desobediência civil, Henry Thoreau;<br />
- Sei passeggiate nei boschi narrativi, Umberto Eco;<br />
- Uma rua de Roma, Patrick Modiano;<br />
<br />
E agora estou lendo:<br />
- A disciplina do amor, de Lygia Fagundes Telles.<br />
<br />
* * *Letícia Möllerhttp://www.blogger.com/profile/07174654849592252760noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8886258627273877516.post-49633342422110323702014-09-24T16:05:00.000-03:002014-10-15T14:56:55.624-03:00Andei lendo...Passou um tempão, eu sumida do blog, e ainda por cima deixei de anotar no meu caderninho as leituras feitas. Enfim, tentei puxar pela memória o que andei lendo nos últimos tempos, já que virou hábito eu registrar os livros lidos por aqui.<br />
<br />
Então, aqui vão eles (ou quase):<br />
<br />
A psicanálise dos contos de fadas, de Bruno Bettelheim<br />
Luciana de Abreu, de Benedito Saldanha<br />
O professor, de Cristóvão Tezza<br />
Mr. Gwyn, de Alessando Baricco<br />
Casa das estrelas: o universo contado pelas crianças, org. Javier Naranjo<br />
Meio intelectual, meio de esquerda, de Antonio Prata<br />
La casa dei setti ponti, de Mauro Corona<br />
Crime e castigo, de Dostoiévski<br />
<br />
E agora estou lendo:<br />
<br />
Tomo conta do mundo: conficções de uma psicanalista, de Diana Corso<br />
<br />
* * *Letícia Möllerhttp://www.blogger.com/profile/07174654849592252760noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8886258627273877516.post-90322414862988164972014-04-11T10:15:00.002-03:002014-04-11T10:17:28.169-03:00O guri e o prazer de ler<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
É tempo de volta às aulas, e o
guri se depara com o que o aguarda no ano letivo. Conteúdos, projetos,
trabalhos, leituras obrigatórias. Os livros novos, com suas capas flamantes e
cheirinho de recém-impresso, o encaram em pilhas sobre a mesa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Os livros, que anos antes faziam
o guri perder o sono de excitação e entusiasmo, e alisar as capas e espiar as
páginas imaculadas, agora o intimidam. Antes objetos mágicos, a convidar a um
mundo interessante a ser descoberto, agora apenas acenam com longas horas de
tédio e aborrecimento.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ele já sabe que ouvirá, também
este ano, a clássica ladainha que não produz efeito, tantas vezes repetida: É
preciso ler!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E, se algum efeito produz, não é
certamente aquele desejado por pais e professores cheios de boas intenções. A
Importância da Leitura, e mesmo o tão incentivado Prazer de Ler, quando
enfiados goela abaixo encontram no guri um desertor - ou, na melhor hipótese,
um leitor de cara amarrada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
É preciso ler! Para não ser
ignorante. Para ser alguém na vida. E não só. É preciso ler e é preciso
entender o que o autor (esta entidade enigmática) quis dizer. E saber o que a
professora quer que ele entenda que o raio do autor quis dizer. E mostrar que
entendeu na Ficha de Leitura.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não é exatamente um apelo
irresistível, nem canto sedutor de sereia. Quase inescapável que o guri verá a
leitura como fardo, pura obrigação, tempo perdido por ser (assim ele pensa) um
ato desconectado de si, privado de um sentido que lhe importe.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Daniel Pennac, em ensaio
encantador intitulado <i>Como um romance</i>
(L&PM), questiona a importância da leitura como dogma, e convida a que pais
e professores partilhem, com paixão, o seu próprio prazer de ler. Uma ideia
simples, mas com potencial revolucionário: “e se, em vez de <i>exigir a leitura</i>, o professor decidisse
de repente <i>partilhar</i> sua própria
felicidade de ler?”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Claro é que os professores enfrentam
certas limitações na autonomia de ensino, não podendo desconsiderar a bel
prazer a exigência de leituras obrigatórias e avaliações. E talvez não seja
isso, pura e simplesmente, nem desejável. Mas se houver, em sala de aula, um
espaço, uma hora, vinte minutos numa sexta-feira que seja, para o professor
partilhar com seus alunos a sua paixão pela leitura, falar de seus livros e
autores favoritos e, fantástico, ler o primeiro capítulo de livros que ele tem
motivos para imaginar que falarão, de fato, à emoção e às entranhas de seus
guris e gurias, isso, sim pode angariar apaixonados pela leitura.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A gratuidade dessas leituras compartilhadas,
quando nada é exigido (nada de perguntas, nada de fichas), quando não há o medo
de não compreender, de não estar à altura do livro, essas <i>leituras-presente</i>, como as chama Pennac, e que podem ser feitas por
pais e professores – têm grandes chances de romper barreiras, chamar de volta
desertores e desfazer as caras mais amarradas. Do prazer gerado por essas
leituras compartilhadas (em casa, na escola) virá o prazer solitário da escolha
do seu livro, da leitura calada, secreta, só sua. E o que o autor quis dizer
não será uma atividade assustadora de extração de sentido, mas um diálogo e um
reconstruir subjetivo e livre.<o:p></o:p><br />
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Assim o espero e desejo, nesta
noite fresca de março.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
Coluna para o site
Artistas Gaúchos<o:p></o:p></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
Março 2014<o:p></o:p></div>
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
* * *<o:p></o:p></div>
Letícia Möllerhttp://www.blogger.com/profile/07174654849592252760noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8886258627273877516.post-29995803993712494732014-04-03T14:21:00.000-03:002014-04-03T14:43:56.473-03:00Andei lendo...Nos últimos tempos, andei lendo:<br />
<br />
Os enamoramentos, de Javier Marías<br />
Jogo da memória (juvenil), de Laura Bergallo<br />
Senhor Lambert, de Sempé<br />
Reprodução, de Bernardo Carvalho<br />
Perto do coração selvagem, de Clarice Lispector<br />
Auto da fé, de Elias Canetti<br />
Como um romance, de Daniel Pennac (releitura)<br />
A arte da ficção, de David Lodge<br />
<br />
* * *Letícia Möllerhttp://www.blogger.com/profile/07174654849592252760noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8886258627273877516.post-89375025061277400042013-12-03T08:24:00.002-02:002013-12-03T08:24:42.788-02:00Mais um lançamento dos gatinhos!<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOEXnH7U_NGt8mgeKd14nAkfbwdrUSq-_mLIz_7XqUUBz5MaDCrmtMUejNGaSImOyZFrqg6WEiGK28UJTZRwLU6hYJj_Nu78jFn4SDDWldNwSat41vqhOkfh87SKer-Sv7A7-xfD2zRh4/s1600/Libretos+FINORIO+DEZEMBRO.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOEXnH7U_NGt8mgeKd14nAkfbwdrUSq-_mLIz_7XqUUBz5MaDCrmtMUejNGaSImOyZFrqg6WEiGK28UJTZRwLU6hYJj_Nu78jFn4SDDWldNwSat41vqhOkfh87SKer-Sv7A7-xfD2zRh4/s640/Libretos+FINORIO+DEZEMBRO.jpg" width="425" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
Os gatinhos estão de volta! Vamos nos encontrar com estes três endiabrados para mais um lançamento, desta vez no Cinema Guion, no dia 10 de dezembro às 18:30. Esperamos vocês!</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
* * *</div>
Letícia Möllerhttp://www.blogger.com/profile/07174654849592252760noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8886258627273877516.post-87201320692356011822013-11-20T21:06:00.001-02:002013-11-20T21:06:28.599-02:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQhaSlMR9DeHd5ijfyCa28tD2k8Cs1bS5lPNevhHG1TCVTe4mYRz3S-j1zx2xszPPKB6cYf6Tc2Z0z6MFjM_mBOMrDWwgv2-W33r5BKTrBxVjOf6vbi6koj0u2O1bCOAVMjzpMMBVP3jY/s1600/obrigado+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQhaSlMR9DeHd5ijfyCa28tD2k8Cs1bS5lPNevhHG1TCVTe4mYRz3S-j1zx2xszPPKB6cYf6Tc2Z0z6MFjM_mBOMrDWwgv2-W33r5BKTrBxVjOf6vbi6koj0u2O1bCOAVMjzpMMBVP3jY/s400/obrigado+2.jpg" width="330" /></a></div>
<br />
O lançamento dos gatinhos <b>Fidalgo, Finório e Firula</b>, na Feira do Livro de Porto Alegre, foi muito bacana! O QG dos Pitocos, onde rolou a contação da história e o bate-papo conosco, estava cheio de crianças super animadas e curiosas, acompanhadas de seus pais, a quem agradecemos pela presença. Agradecemos também de coração aos amigos que compartilharam com a gente a nossa alegria.<br />
Muito <i>obrigato</i>!<br />
<br />
Vejam fotos do lançamento no meu outro blog, o <a href="http://www.loveolivro.blogspot.com/">loveolivro</a><br />
<br />
* * *<br />
<br />Letícia Möllerhttp://www.blogger.com/profile/07174654849592252760noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8886258627273877516.post-35109195947730268612013-10-17T10:23:00.000-03:002013-10-17T10:23:01.042-03:00Convite<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOwbDPDKRxle5XlZ3XpsNwf9oZoQnf3w4e9_wr11KzTBE1PsTQLbBbEiAQ3CZPKUucI4aQ7rsO9cHE-lpYZoIVW2LanxyZ1_L00jDe2-8PyYit6PJQVccuQLr9DATQeSkty3GLvMmzOOI/s1600/FFF+-+Convite+Lan%C3%A7amento+na+Feira+do+Livro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" esa="true" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOwbDPDKRxle5XlZ3XpsNwf9oZoQnf3w4e9_wr11KzTBE1PsTQLbBbEiAQ3CZPKUucI4aQ7rsO9cHE-lpYZoIVW2LanxyZ1_L00jDe2-8PyYit6PJQVccuQLr9DATQeSkty3GLvMmzOOI/s640/FFF+-+Convite+Lan%C3%A7amento+na+Feira+do+Livro.jpg" width="426" /></a></div>
Letícia Möllerhttp://www.blogger.com/profile/07174654849592252760noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8886258627273877516.post-11429278824255702412013-10-08T15:33:00.003-03:002013-10-08T15:35:03.069-03:00Carta de Caxias - Manifesto de escritores gaúchosAssociação Gaúcha de Escritores - AGEs divulga Carta de Caxias: fruto do encontro de escritores<br />
<br />
ENCONTRO DE ESCRITORES DA AGES / CAXIAS DO SUL – 2013<br />
<br />
CARTA DE CAXIAS<br />
<br />
No instante em que encerramos as atividades do Encontro de Escritores da AGES 2013, que se realizou integrado à 29ª Feira do Livro de Caxias do Sul, em retrospectiva, encontramos motivos para reforçar nossas convicções no que tange a importância de iniciativas dessa natureza. Durante nossas conferências e debates, a quase totalidade das questões que envolvem as cadeias produtivas, criativas e mediadoras do livro e da leitura foram abordadas, suscitando importantes reflexões. Viu-se reforçado o papel do escritor em sua inserção na sociedade – formador de opinião e indutor de visão crítica –, bem como o entendimento do livro como bem cultural indispensável.<br />
<br />
Os temas receberam diferentes visões, numa troca de informações multidisciplinar, sempre de modo a construirmos sínteses e estratégias que influenciarão futuras ações dos envolvidos em prol de nossas causas. A cooperação esteve sempre em voga, bem como o sentimento de que oportunidades dessa natureza são indispensáveis pois, isoladamente, poder público, editoras, livreiros, mediadores de leitura e produtores de conteúdo dificilmente verão seus esforços surtirem o melhor efeito.<br />
<br />
Como conclusão, percebemos que, além de políticas de leitura que facilitem o acesso ao livro nos âmbitos municipal, estadual e federal, é importante que sejam priorizados espaços para a qualificação dos mediadores de leitura, a fim de que o livro tenha, de fato, papel relevante na formação do leitor literário e na construção da cidadania. Outrossim, reforçamos a importância que todos os programas de leitura prevejam a realização de projetos de leituras propostos pelas entidades beneficiadas por tais programas.<br />
<br />
Em relação às políticas públicas do livro e da leitura, entendemos como fundamental que haja maior democratização das informações de editais que proponham financiamentos nos diferentes âmbitos do setor livreiro (criação, produção, mediação), a fim de que as organizações da sociedade civil possam dialogar e atuar na construção de planos de leitura nos diferentes níveis e também possam habilitar-se para participarem de tais políticas. Para tal, julgamos ser importante que tais editais sejam amplamente divulgados na mídia e enviados a setores e organizações ligadas ao livro e à leitura.<br />
<br />
Por fim, a AGEs reafirma seu compromisso de ser entidade representativa dos interesses majoritários de seus associados, promovendo ações e projetos voltados à criação literária e à divulgação do trabalho de seus associados, quer através de sua maior inserção no sistema literário, quer destacando aspectos relevantes de sua produção, seguindo sua política de parcerias com entidades públicas e privadas, com feiras de livros, sempre com o objetivo de congregar escritores e demais agentes da área do livro e da leitura. Reiteramos, também, nossa posição em defesa da natureza profissional da atividade de escritor em seu trabalho literário e intelectual.<br />
<br />
Caxias do Sul, 29 de setembro de 2013.<br />
Diretoria da AGES<br />
<br />
* * *Letícia Möllerhttp://www.blogger.com/profile/07174654849592252760noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8886258627273877516.post-20609327682009311042013-09-05T16:31:00.000-03:002013-09-05T16:31:06.025-03:00Livro novo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZpJX9fq1pQbSsLxZm-0iWGxyT5kMXBobRkX6ic8D96Iahd1SS5s-ER4tKtG7Y9r4-BH04SweuMYwHTN-Knxnj7wTfAV6zTjtk0XV8x1VLO9NtzhF5Xam2cYpJFSjA-JRH2RMDpLaVEZ0/s1600/Fidalgo,+Fin%C3%B3rio+e+Firula+-+CAPA.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" psa="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZpJX9fq1pQbSsLxZm-0iWGxyT5kMXBobRkX6ic8D96Iahd1SS5s-ER4tKtG7Y9r4-BH04SweuMYwHTN-Knxnj7wTfAV6zTjtk0XV8x1VLO9NtzhF5Xam2cYpJFSjA-JRH2RMDpLaVEZ0/s400/Fidalgo,+Fin%C3%B3rio+e+Firula+-+CAPA.jpg" width="265" /></a></div>
<br />
<br />
Muito feliz com mais um livro! É o meu terceiro infantil, que sai pela Editora Libretos. Ilustrações incríveis do Yuji Schmidt. Em breve, notícias do lançamento.<br />
<br />
* * *<br />
Letícia Möllerhttp://www.blogger.com/profile/07174654849592252760noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8886258627273877516.post-37500507910847893962013-08-22T08:21:00.000-03:002013-08-22T08:21:18.674-03:00Retornar e reencontrar(-se)<a name='more'></a>
Potevo spiegare a qualcuno che quel che cercavo era soltanto di vedere qualcosa che avevo già visto? (…) Per me, delle stagioni eran passate, non degli anni. Più le cose e i discorsi che mi toccavano eran gli stessi di una volta, (…) più me facevano piacere.
<br />
<br />
(Cesare Pavese, “La luna e i falò”)<br />
<br />
<br />
<br />
Era como se nós nunca tivéssemos ido embora.<br />
<br />
Aqueles anos, que aqui desfiavam suas estações infindáveis, como que se condensaram num instante. Como um parêntese, que não eliminava a continuidade da experiência. Uma breve pausa, e não uma ruptura.<br />
<br />
Era como se tivéssemos estado sempre lá. E a sensação de perda, de que algo precioso tinha sido subtraído para sempre, deu lugar a algo diferente.<br />
<br />
Quando foi exatamente que a mágica aconteceu? Não quando o avião tocou a pista, nem quando chegamos com o carro alugado e começamos a reconhecer cada esquina. Aí a sensação ainda era outra. A emoção por estar de volta.<br />
<br />
Mas a sensação poderosa e surpreendente de que todos aqueles anos tinham se contraído numa pequena fração de tempo começou num momento preciso: quando descemos do carro com as malas e inalamos o ar da cidade. Aquele cheiro que não era especialmente bom ou ruim, mas que era o cheiro que a vida tinha lá. Nunca tinha prestado atenção naquele odor das ruas. Mas era ele que agora fisgava nossas almas a um só tempo, inconfundível. Nossa particular madeleine.<br />
<br />
Era como se os nossos pés não tivessem deixado de pisar aquelas calçadas, nem nossos olhos se apartado das paredes de pedra amarela, as fachadas antigas, os cafés elegantes, as livrarias de rua, o comércio pulsante.<br />
<br />
Essa sensação trouxe um conforto muito grande, um apaziguamento absoluto, como uma espécie de embriaguez que durou por dias. Não queríamos que passasse.<br />
<br />
Era como se a cidade nos dissesse: ainda é tempo. Sempre é tempo de retornar. <br />
<br />
Agradeço por ela quase não ter mudado. Por nos permitir reencontrar lugares, fachadas, letreiros, ambientes. O jardim público igual em beleza e cuidado. O Caffè Raphael, extensão da nossa casa, com a dupla imbatível cornetto alla crema e cappuccino. A Palmieri, livraria caótica e de excelente acervo, onde dispendíamos horas explorando as pilhas de livros e negociávamos dolorosamente com nossos bolsos. A Locanda Rivoli, sempre aberta para saciar a fome depois das aulas, com seus antepastos e massas a preço justo. Eu só queria que tudo continuasse na sua forma e lugar devidos, num sentimento absurdo de posse: a cidade não nos traiu, nos esperou imutada.<br />
<br />
Retornando, reencontramos e reconhecemos. Mas fundamentalmente, para além do reencontro com exteriores afetivos, reencontramos algo de nós mesmos. Reconhecemos uma faísca que julgávamos perdida. Uma paixão pelas coisas. Um olhar amplo e otimista para o mundo. Uma crença na potência da vida e na potência dos nossos sonhos.<br />
<br />
Ao retornar, reencontramos nossos antigos anseios, desejos, ambições e projetos para o futuro. Voltamos a uma época onde tudo parecia possível; nosso potencial, ilimitado. Faríamos grandes coisas, conquistaríamos o que nossas almas ditassem. Sabíamos quem éramos e o que queríamos da vida, e nos realizaríamos plenamente. Não tínhamos dúvida.<br />
<br />
Estar de volta era sentir mais uma vez que tudo era possível. Que ainda era tempo. Que valia a pena resgatar nossos sonhos. Mesmo que os últimos anos tivessem nos comprimido contra a parede da dura realidade. Uma doce sensação.<br />
<br />
Como era possível que a vida na nossa terra natal nos tivesse estreitado os horizontes, sugado nossa energia vital, ofuscado a crença na possibilidade de ser o que éramos ou o que desejávamos ser? De repente nos sentíamos apenas parte de um sistema, peças de uma engrenagem. Engolidos por uma rotina massacrante, numa ilógica e permanente corrida para sobreviver, vencer, ter. O sentimento de estar eternamente em dívida, sem nunca dar conta, nunca fazer o bastante, nunca ter o bastante, nunca ser bom o bastante.<br />
<br />
Para onde diabos fora a confiança em quem éramos e no que queríamos, o sentimento de liberdade para regermos a vida do nosso jeito?<br />
<br />
De repente nos sentíamos estrangeiros em nossa própria casa. E o sentido das nossas vidas parecia ter fincado bandeira do outro lado do Atlântico. Aquele recente apanhado de memórias, da vida que ali vivemos um dia, ganhava um peso decisivo, um valor definitivo, impondo sua soberania sobre as nossas raízes. Estar de volta, longe de casa, era agora estar mais em casa do que nunca. A sensação de pertencimento se fragmentava, quase se deslocava. Sentíamos que esse fascinante pedaço de terra no mediterrâneo nos pertencia, e assim a ele também nossa alma, a partir de uma intensa afinidade espiritual, intelectual, emotiva.<br />
<br />
Estávamos de volta, mas não iria durar. Nos permitíamos a doce vertigem, mas a sabíamos efêmera. Logo teríamos que fazer as contas com a nossa terra. Cavar fundo e reencontrar, aqui também, algo valioso, nossas raízes mais profundas e autênticas. Reavivar o lugar que é delas de direito, nesse arabesco em que nos transformamos, para encará-las não como um impedimento, mas como algo que de algum modo nos decifra. Lutar contra o retorno de velhos receios, rótulos, pequenezas. Romper o contrato de adesão com o sistema que aprisiona, na tentativa de conciliar as adaptações e concessões da “vida real” por aqui com o resgate dos nossos sonhos e projetos de vida. Só assim, desse lado do Atlântico, poderíamos nos sentir livres para sermos nós mesmos, ou nos expandirmos em múltiplas e ousadas direções. Reconstruir, aqui também, nossa casa e nosso ser.<br />
<br />
* * *Letícia Möllerhttp://www.blogger.com/profile/07174654849592252760noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8886258627273877516.post-72001851349949151402013-08-09T15:54:00.001-03:002013-08-09T15:54:18.325-03:00Andei lendo...Nos últimos tempos, andei lendo:<br />
<br />
Felicidade demais (contos), Alice Munro<br />
Cadernos de Literatura Brasileira - Erico Veríssimo<br />
Corpos estranhos, Cynthia Ozick<br />
Sagrada família, Zuenir Ventura<br />
Seminário dos ratos (contos), Lygia Fagundes Telles<br />
O coronel Chabert, Honoré de Balzac<br />
<br />
E estou lendo:<br />
Os enamoramentos, Javier Marías<br />
<br />
* * *Letícia Möllerhttp://www.blogger.com/profile/07174654849592252760noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8886258627273877516.post-20804574330712167532013-05-09T12:03:00.002-03:002013-05-09T12:03:40.115-03:00Inícios<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigKX8qqn-cw2BOzhk9uWa9ZJHZj3ke1BOZphb9yQpnjVFX7jI4MucKQmj7Gns6muoLSa5nPQJFo2bvJZU7Srui7CahsUXThAihxKQFdqYFI-Etcu9HEC2T5vRZa415ra_vV3IauOfhfzI/s1600/Capa+Il+Piacere.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" mwa="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigKX8qqn-cw2BOzhk9uWa9ZJHZj3ke1BOZphb9yQpnjVFX7jI4MucKQmj7Gns6muoLSa5nPQJFo2bvJZU7Srui7CahsUXThAihxKQFdqYFI-Etcu9HEC2T5vRZa415ra_vV3IauOfhfzI/s1600/Capa+Il+Piacere.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<br /> </div>
<div style="text-align: center;">
<em>"L'anno moriva, assai dolcemente. Il sole di San Silvestro spandeva non so che tepor velato, mollissimo, aureo, quasi primaverile, nel ciel di Roma. Tutte le vie erano popolose come nellle domeniche di maggio. Su la piazza Barberini, su la piazza di Spagna una moltitudine di vetture passava in corsa traversando; e dalle due piazze il romorio confuso e continuo, salendo alla Trinità de' Monti, alla via Sistina, giungeva fin nelle stanze del palazzo Zuccari, atenuato."</em></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
("Il piacere", de Gabriele D'Annunzio, 1889.</div>
<div style="text-align: center;">
Milano: BUR-Rizzoli, 2011)</div>
<div style="text-align: center;">
<br />* * *</div>
<br />
<br />
<br />Letícia Möllerhttp://www.blogger.com/profile/07174654849592252760noreply@blogger.com0