quarta-feira, 2 de julho de 2008

O quarto, uma varanda

Nestas manhãs porto-alegrenses feitas de bruma, o pensamento escapa do aqui e do agora. A manhã se faz noite, a cidade some entre espessa névoa. O concreto transformado em mar imenso, o quarto uma varanda para outros mundos. Viajo com Cecília.

Distância
(Cecília Meirelles)

Quem sou eu, a que está nesta varanda,
em frente deste mar, sob as estrelas,
vendo vultos andarem?

Sabem, acaso, os vultos, quem vão sendo?
Sentem o céu, as águas, quando passam?
Ou não vêem, ou não lembram?

Como alguém deste mundo para a lua
dirige os olhos, meditando coisas
e assim no vago mira.

- Para este mundo vão meus pensamentos,
tão estrangeiros, tão desapegados,
como se esta varanda fosse a lua.

(em: Mar absoluto e outros poemas)