Nísia Floresta (1810-1885)
Escritora e educadora, Nísia Floresta é considerada a pioneira do feminismo no Brasil.
Nascida em 1810 em Papari, no Rio Grande do Norte, filha de um advogado português e de uma brasileira, foi batizada com o nome de Dionísia Golçalves Pinto, mas iria adotar o pseudônimo de Nísia Floresta Brasileira Augusta, pelo qual ficou conhecida.
“Nísia é o final de seu nome de batismo. Floresta, o nome do sítio onde nasceu. Brasileira é o símbolo de seu ufanismo, uma necessidade de afirmativa para quem viveu quase três décadas na Europa. Augusta é uma recordação de seu segundo marido, Manuel Augusto de Faria Rocha, com quem se casou em 1828, pai de sua filha Lívia Augusta” (cf. Projeto Memória Viva).
A obra precursora de Nísia é marcada pela defesa dos direitos das mulheres, pela denúncia das condições de opressão vividas pelas mulheres no Brasil. Lutou por um ensino igualitário entre os gêneros, assim como também dedicou-se a escrever em defesa dos direitos dos indígenas e contra a escravidão dos negros, aderindo à causa abolicionista.
Aos 22 anos de idade, Nísia Floresta publica Direito das Mulheres e Injustiça dos Homens, em 1832, construído a partir do texto revolucionário da feminista inglesa Mary Wollstonecraft, Vindications of the Rights of Woman, publicado em 1792. A obra de Nísia, contudo, não se resume a uma tradução literal do texto de Wollstonecraft, sendo uma "tradução livre", onde Nísia adapta o texto à realidade brasileira. Como esclarece Constância Lima Duarte:
“ao invés de fazer simplesmente uma tradução, a autora brasileira aponta os principais preconceitos existentes no Brasil contra seu sexo, identifica as causas desse preconceito, ao mesmo tempo em que desmistifica a idéia dominante da superioridade masculina. (...) Na deglutição geral das idéias estrangeiras aqui chegadas, era comum promover-se uma acomodação das mesmas ao cenário nacional. É o que ela faz. Assimila as concepções de Mary e devolve um outro produto, pessoal, em que cada palavra é vivida, em que os conceitos surgem das páginas como algo visceral, extraídos da própria experiência e mediatizadas pelo intelecto” (DUARTE, Constância Lima. “Nísia Floresta Brasileira Augusta: Pioneira do Feminismo Brasileiro-Séc. XIX”. Disponível aqui).
Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens é considerado o texto fundante do feminismo no Brasil. Seu caráter pioneiro fica ainda mais evidente se pensarmos que foi escrito 100 anos antes que o voto das mulheres fosse permitido em nosso país!
Dentre 15 títulos de sua autoria, publicou Opúsculo Humanitário (1853), uma coletânea de artigos sobre a emancipação feminina, o qual recebeu a crítica positiva de Auguste Comte, o pai do positivismo. A troca de cartas entre ambos foi reunida em um volume organizado por Constância Lima Duarte e publicado pela EDUNISC (Cartas Nísia Floresta & Auguste Comte, 2002).
Nísia viveu por muitos anos na Europa, sobretudo em Paris, retornando ao Brasil para voltar novamente à Europa. Morre na França em 1885. Em 1954, seus despojos são transferidos para o Rio Grande do Norte.
O estudo de Constância Lima Duarte, Nísia Floresta: vida e obra (Natal: Editora da UFRN, 1996, 366 p.), apresentado em 1991 como tese de doutorado na USP, é considerado a mais completa biografia de Nísia Floresta.
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Letícia Möller
Porto Alegre/RS. Advogada, mestre e doutoranda em direito, pesquisadora em bioética. Escreve crônicas, contos e prosas poéticas, que publica neste blog, no Overmundo e em algumas revistas digitais. Escreve também narrativas infantis e juvenis.