sexta-feira, 7 de março de 2008

Grandes Mulheres: Cristiane Avancini Alves conta Edith Stein

Edith Stein (1891-1942)

Eis a verdade…

Já faz algum tempo que não conversamos. Por isso, quando pensei numa mulher, pensei nela. Estava com saudades. A correria do dia-a-dia e as preocupações do cotidiano tolhem, por vezes, aquele bom recolhimento pessoal, quando nos encontramos com nós mesmos. E Edith sempre foi uma discreta e forte companhia nestes meus momentos de silêncio interior, tão cheio de vozes, dúvidas, esperanças. Momentos eloqüentes que devo retomar. Eles trazem equilíbrio. Nos inundam de uma suave paz.

Refiro-me a Edith Stein. Ela nasceu em Breslau (na época, pertencente a Alemanha, hoje Polônia) em 1891. Filósofa, discípula de Edmund Husserl, de origem judia. Sua busca pelo conceito da “Verdade” passou do racionalismo acadêmico à experiência pessoal. Da Fenomenologia, defrontou-se com a I e II Guerra Mundial e, com elas, a perda de amigos. Paradoxalmente, uma sensível perda que, por caminhos diversos, a levou ao encontro da obra “O Livro da Vida”, de Teresa de Ávila. Ao finalizar a leitura do livro, diz a si mesma: “Esta é a Verdade”. Entra para a vida carmelitana aos 42 anos de idade, chamando-se, a partir de então, “Teresa Benedita da Cruz”. Refugiou-se da perseguição nazista no Carmelo de Echt, Holanda. Em 9 de agosto de 1942, morre no campo de concentração de Aushwitz.

Já faz algum tempo que não conversamos, mas já faz muito tempo que, direta ou indiretamente, sinto sua coragem. Não falo, aqui, de religião ou linhas filosóficas. Penso na plenitude de “ser”, no desafio de uma mulher que, na sua época, passou da Filosofia ao Holocausto. Edith nos faz lembrar que o verbo “acreditar” é pleno de movimento e desafios. Aceitar a si mesmo neste emaranhado de perguntas interiores é a resposta mais difícil de encontrar. E ela, Edith, foi uma mulher que, ao desafiar, pacificou dúvidas, alimentou esperanças. Diz-se que o seu foi um “Holocausto de Amor” para aquele tempo escuro da humanidade. Seu exemplo traz luz. E ser mulher é ser luz, que nunca há de se ocultar.

Cristiane Avancini Alves
Formada em Jornalismo pela PUCRS em 1999 e em Direito pela UFRGS em 2001. Mestre em Direito Privado pela UFRGS em 2005. Atualmente, é Doutoranda em Ciências Jurídicas pela Scuola Superiore Sant’Anna em Pisa, Itália.

6 comentários:

Anônimo disse...

Não conhecia a história de Edith Stein e fiquei cuirosa para ler mais sobre esta mulher corajosa e iluminada.
Obrigada, Cristiane, pela bela apresentação que você fez.

beijos

Letícia Möller disse...

Querida Cris,

apresentas Edith Stein com muita beleza e delicadeza, na forma de uma conversa íntima entre vocês (que generosamente partilhas conosco), duas almas sensíveis em busca de autoconhecimento e verdade.
Linda lembrança, linda homenagem.

Um beijo,
Letícia.

Letícia Möller disse...

Lembrei de mencionar a feliz coincidência entre a escolha da Cris e a escolha de Nydia Bonetti, cuja mulher homenageada será a próxima publicada, para se poder evidenciar a relação entre ambas. Nydia escolhera homenagear justamente Teresa de Ávila, poeta e religiosa espanhola do século XVI, que 4 séculos mais tarde viria a influenciar fortemente Edith Stein, como a Cris nos conta.

Anônimo disse...

Letícia
Aproveitando o espírito das duas grandes carmelitas, eu te pergunto: seria mesmo coincidência ou teria sido a Providência Divina?
Seja como for, são dois exemplos de mulheres que impressionam, ao mesmo tempo pela força, pela coragem, pela inteligência e pela doçura.
Beijo!

Fleury disse...

Letícia e demais meninas.
Estou amando essa idéia de ampliar meu leque de informações sobre as mulheres literatas de ontem, de ontem e... de sempre.
Abraço,
Karina Fleury.

Unknown disse...

Caras,
Realmente està sendo muito especial compartilhar todas essas vidas!
Beijos,
Cristiane