quinta-feira, 28 de junho de 2012

Bastidores de escritor

Em Roma, há alguns meses atrás, fuçava nas estantes da Feltrinelli em busca de algo interessante na seção de escrita e teoria literária. Em meio a dezenas de manuais que pretendem ensinar a escrever boa literatura através de fórmulas simples ou definitivas – e outros ainda que partem de sentenças realmente úteis, como “Recomenda-se utilizar recuo ao iniciar um novo parágrafo” –, acabei por encontrar um volume completamente diferente dos demais.

The secret miracle: the novelist’s handbook (826 National, 2010), que encontrei na edição italiana Come si scrive un romanzo. Manuale di scrittura creativa a più voci (Omero Editore, 2011), é organizado pelo escritor peruano radicado nos Estados Unidos Daniel Alarcón, e apresenta uma proposta interessante e original. Não obstante o título, Alarcón esclarece de saída que o livro não é um manual, propondo-se quanto mais a inspirar, consolar, entusiasmar ou mesmo irritar outros autores, a partir do conhecimento de múltiplas experiências literárias. Para tanto, Alarcón reúne dezenas de escritores, entre nomes consagrados internacionalmente e autores em início de carreira, para deles extrair suas experiências como romancistas, seus gostos estéticos, escolhas, métodos de escrita, rituais e dificuldades.

O volume organiza-se em 7 capítulos temáticos (Leituras e influências; Começar; Estrutura e trama; Personagens e cenas; Escrever; Revisão; e O final), cada qual composto de uma série de perguntas bem específicas. Assim, já na primeira, o livro nos revela o que os autores buscam em um romance (seja como leitores e como escritores), e as respostas são as mais distintas, indo da preocupação com uma trama bem montada e uma história bem contada, com personagens fortes e coerentes, à preocupação estética com a linguagem, com a precisão das palavras e as frases impecáveis, o ritmo e a musicalidade, a voz narrante singular e bem reconhecível, a manifestação de emoções e ideias, uma visão de mundo ou filosofia da existência que rege todo o romance, uma procura profunda sobre si próprio e seu lugar no mundo.

Outros questionamentos também revelam respostas interessantes e díspares, dentre os quais: Existe um romance ao qual você, como leitor, sempre retorna? O que ele lhe ensina? Como você mantém o equilíbrio entre a leitura livre e a leitura estritamente útil ao seu trabalho? Faz pesquisas antes de começar a escrever? Ela lhe ajuda ou pode acabar por limitar sua imaginação? Quanto tempo você leva para terminar uma primeira versão do romance? Que conselhos gostaria de ter recebido antes de começar a escrever seu primeiro romance? Você prepara um esquema da história, e segue-o fielmente? Como decide quem será o narrador (1ª ou 3ª pessoa; narrador onisciente ou limitado)? O quanto você “pega emprestado” de sua vida para construir um personagem? O que torna um personagem irresistível? O que faz com que um diálogo seja bom? Onde você escreve, e o quanto é importante o ambiente em que escreve? O quanto você tem consciência da influência de outros autores enquanto escreve? O que é preciso para que o romance tenha um final satisfatório? Como você percebe que o romance chegou ao ponto em que deve terminar?

A obra nos revela, por exemplo, um Paul Auster preocupado com a paixão e a potência da escrita; que evita ler outros livros de ficção enquanto está escrevendo, dando preferência a livros de história, ensaios e biografias; que tem Dom Quixote como fonte inesgotável de inspiração; que considera a escolha do narrador (1ª ou 3ª pessoa) a maior dúvida com que um escritor se depara, devendo ponderar longamente antes de chegar a uma resposta; que escreve num pequeno apartamento espartano e sem distrações, distante poucas quadras de sua casa.

Ficamos sabendo que Jennifer Egan passou um tempo na prisão para conseguir melhor capturar a atmosfera e as características do lugar; que escreve à mão e velozmente, obtendo uma primeira versão em poucos meses, mas levando anos para aprimorá-la; que não conhece muito da trama da história ao começar a escrever, mas que, acabada a primeira versão, faz um esquema exaustivo para entender o que produziu e auxiliar a revisão.

Um bom diálogo, para Colm Tóibín, antes de tudo tem bom ritmo; para Stephen King, deve soar realístico ao ouvido da mente; para José Manuel Prieto, deve ser inexato e vago como são as comunicações verbais na vida real; para Santiago Roncagliolo, revela o mundo interior dos personagens sem arrastar a narração; para Edwidge Danticat, deve conter argúcia, humor ou imprevisibilidade; para Amy Tam, um bom diálogo não deve ter nada de excessivo, nem tentar a todo custo ser brilhante e arguto.

Stephen King não dá importância para o local onde escreve, Adania Shibli passa o dia escrevendo na cama, sob a luz do sol, Josh Emmons pode escrever em cafés, parques e bibliotecas, até que as conversas alheias se tornem tão interessantes que prefira continuar a escrita no silêncio de casa. Andrew Sean Greer elege alguns livros para ter sempre por perto enquanto escreve, e não acredita em inspiração, só em constância no trabalho (“A inspiração vem quando se põe o traseiro na cadeira e se começa a escrever”).

O livro oferece, enfim, um mosaico variado e divertido que cumpre seu propósito de estimular e consolar o leitor-escritor, além de fazer com que confronte suas próprias experiências e ideias sobre a escrita com experiências e escolhas diversas (esse, o maior ganho com a leitura do livro), evidenciando aquilo que no fundo já se sabia: que não há um único propósito, um único modo, uma única metodologia no processo de escrita de uma narrativa literária como o romance. Não há receita que funcione para todos.

Senti falta de um último capítulo sobre Publicação, que questionasse sobre como ocorreu a publicação do primeiro livro dos autores, se o processo foi facilitado para a publicação dos posteriores, sobre a figura do agente literário (uma exceção, ainda, entre nós), sobre direitos autorais e adiantamento (este tão raro por aqui, embora bastante comum por lá). Embora o volume tenha entrevistado escritores de diferentes nacionalidades ou origens, a grande maioria encontra-se radicada nos Estados Unidos, e ali produz e publica, traço que poderia fornecer uma ideia mais clara sobre o processo de publicação naquele país e as diferenças com o nosso.

As experiências relatadas e os sentimentos revelados no livro, com muita probabilidade, estarão presentes no pensamento dos leitores quando forem se aventurar a escrever seu primeiro romance, ou mesmo daqueles já mais experienciados, quando derem início a uma nova narrativa. Pessoalmente, sinto que quando encarar a empreitada, esses relatos, de uma forma ou de outra, estarão flutuando em minha mente como palavras amigas a não deixar o desespero e o desânimo tomarem conta, e ao mesmo tempo como provocações a não deixar meu olhar comodamente estanque, a lembrar de que vale sempre lançar um outro olhar sobre aquilo que criamos.


Coluna originalmente publicada no site Artistas Gaúchos,
em 20/06/2012
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quinta-feira, 21 de junho de 2012

Inícios


Ernesto Sabato, "A resistência", Primeira carta
(Companhia das Letras, 2008)

"Há certos dias que acordo com uma esperança demencial, momentos em que sinto que as possibilidades de uma vida mais humana estão ao alcance de nossas mãos. Hoje é um desses dias.

E então me ponho a escrever quase às apalpadelas na madrugada, com urgência, como alguém que saísse para a rua pedindo ajuda diante de uma ameaça de incêndio, ou como um navio que, a ponto de afundar, mandasse um último e fervoroso sinal para um porto que sabe próximo mas ensurdecido pelo barulho da cidade e pela infinidade de letreiros que confundem o olhar.

Peço a vocês que paremos para pensar na grandeza que ainda podemos pretender se ousarmos avaliar a vida de outra maneira. Peço a nós essa coragem que nos situa na verdadeira dimensão do homem. Todos, repetidas vezes, fraquejamos. Mas há uma coisa que não falha, e é a convicção de que - unicamente - os valores do espírito podem nos resgatar deste terremoto que ameaça a condição humana.

(...)".

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terça-feira, 19 de junho de 2012

Boa notícia: o Voto Como Vamos, projeto de aplicativo para o Facebook visando a aproximar eleitores e candidatos nas eleições municipais de Porto Alegre, conseguiu obter o financiamento da sociedade civil para ser viabilizado. O projeto foi desenvolvido pelo Porto Alegre Como Vamos, movimento apartidário e independente criado em 2011.

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terça-feira, 12 de junho de 2012

Voto Como Vamos

Divulgando um projeto muito bacana, de olho nas eleições municipais 2012.

O Voto Como Vamos depende de doações da sociedade civil, pelo sistema de crowfunding, para que possa ser implementado. Colabore no financiamento do aplicativo através do site Catarse, clicando aqui. O projeto precisa arrecadar R$ 12.500,00 até o dia 15/06/12. Falta pouco! Apóie!



Sobre o projeto



O que é?

O Voto Como Vamos será uma aplicação no Facebook que vai revolucionar a relação eleitor-candidato. Nele você vai saber tudo sobre as propostas e candidatos das próximas eleições de maneira simples, didática e rápida.
O Voto Como Vamos será implementado primeiramente em Porto Alegre. No entanto, por ter o código aberto, a plataforma pode ser replicável para qualquer cidade que quiser ter uma iniciativa semelhante.

Por que o Voto Como Vamos?

Reclamamos que a política é chata, que só há corrupção, não sabemos o que fazer, mas não agimos para melhorar essa situação. Por isso, construímos esta plataforma para descobrir uma maneira de ajudá-lo e também de nos ajudar a escolher melhor os candidatos nas eleições, tendo em vista que este momento é crucial para a transformação da nossa sociedade.

Como você pode interagir com a plataforma:

1)Se informar sobre o que faz um vereador e um prefeito

2)Sugerir propostas como se você fosse um candidato

3)Conhecer os candidatos que representam o que você quer

4)Comparar as propostas dos políticos que estão concorrendo

5)Confrontar notícias da mídia e opiniões de outros cidadãos com as promessas dos candidatos

Tudo isso para escolher melhor quem vai nos representar no ano que vem.

O que vamos fazer com o dinheiro que voce doar?

Vamos pagar os serviços de planejamento, programação, design e arquitetura para construir a plataforma digital. Todos os outros trabalhos estão e continuarão sendo feitos de maneira voluntária. Para a plataforma estar completa precisamos de R$18.500,00. Se reduzirmos algumas funcionalidades (como a possibilidade de confrontar as notícias da mídia e comparar as suas ideias com as dos candidatos), o projeto pode ser realizado com R$12.500,00. Acreditamos que estas funcionalidades são importantes para que a revolução eleitor candidato realmente aconteça.

Quem Somos?

O Porto Alegre Como Vamos, criador da plataforma Voto Como Vamos, é um movimento da sociedade civil, apartidário, sem fins lucrativos, que pretende ampliar a participação do portoalegrense nas políticas publicas por meio de espaços de interação para a melhoria da cidade. Temos como objetivo elevar os níveis locais de democracia e de qualidade de vida, mantendo um compromisso com o desenvolvimento sustentável e com a justiça social. Somos um organismo aberto, com o dever de acolher qualquer pessoa que com ele resolver interagir.

Os focos da nossa atuação são: Educação Política, Transparência e Desenvolvimento Humano.

Conheça mais: http://voto.poacomovamos.org/