São muitas as pessoas, àquela hora, na farmácia. Algumas circulam espiando os produtos, outras esperam atendimento no balcão. O volume de gente aumenta, o ritmo do atendimento é lento. Cresce a impaciência. Todos têm tanto a fazer, cada minuto é precioso. E a pessoa ao lado de repente transforma-se em potencial inimigo – causa de infinitos contratempos jornada afora.
Apóio-me numa perna, troco para a outra, e assim vou. O olhar cansado, suspiro. Eis que um homem, na faixa dos sessenta anos e cuja presença eu não havia notado, estende o braço em minha direção, alcançando-me um papelzinho. Nada diz. Pego o papel desconfiada, pensando “o que este homem está querendo me vender?”. Vejo que ele estende a mesma tira de papel dobrada a algumas outras pessoas. Desdobro a minha já certa do que vou encontrar – um pedido de ajuda, um grito de socorro – e discretamente corro os olhos sobre as linhas.
Não. Não há ali alguma referência a uma condição difícil, ao dinheiro talvez muito necessitado. Há apenas uma mensagem singela, que fala de alegria, de otimismo, de amor ao próximo. Um convite simples a perceber as belezas da vida. Uma cutucada em nossa face defensiva e fechada.
Levanto os olhos ao homem. Ele retribui meu olhar e sorri com o canto dos lábios. Digo baixinho “obrigada”. E algo se transforma: ao meu redor, dentro de mim. Como mágica.
Gesto inusitado.
Não era época de festas, quando o espírito natalino contagia a todos e amor e solidariedade viram palavras de ordem. Era um dia qualquer, de um qualquer mês.
Ah, o poder de um bilhete e um sorriso! E o quanto podem ensinar...
Apóio-me numa perna, troco para a outra, e assim vou. O olhar cansado, suspiro. Eis que um homem, na faixa dos sessenta anos e cuja presença eu não havia notado, estende o braço em minha direção, alcançando-me um papelzinho. Nada diz. Pego o papel desconfiada, pensando “o que este homem está querendo me vender?”. Vejo que ele estende a mesma tira de papel dobrada a algumas outras pessoas. Desdobro a minha já certa do que vou encontrar – um pedido de ajuda, um grito de socorro – e discretamente corro os olhos sobre as linhas.
Não. Não há ali alguma referência a uma condição difícil, ao dinheiro talvez muito necessitado. Há apenas uma mensagem singela, que fala de alegria, de otimismo, de amor ao próximo. Um convite simples a perceber as belezas da vida. Uma cutucada em nossa face defensiva e fechada.
Levanto os olhos ao homem. Ele retribui meu olhar e sorri com o canto dos lábios. Digo baixinho “obrigada”. E algo se transforma: ao meu redor, dentro de mim. Como mágica.
Gesto inusitado.
Não era época de festas, quando o espírito natalino contagia a todos e amor e solidariedade viram palavras de ordem. Era um dia qualquer, de um qualquer mês.
Ah, o poder de um bilhete e um sorriso! E o quanto podem ensinar...
3 comentários:
Olá Letícia, um belo conto, vc tem razão, um "simples" sorriso tem o poder de transformar o dia de alguém e o nosso. Hoje as pessoas estão carrancudas, sempre com pressa, impacientes, a individualidade, este aspecto da contemporaneidade, está de tal forma exacerbado que perdeu-se, acredito, para a grande maioria , a noção de que interagimos o tempo todo, queiramos ou não, e o sorriso e a boa vontade tornaram-se chaves importantes para o surgimento de pontes entre as pessoas.
abraços
renata
Cara Renata,
parece que hoje vivemos mesmo sob o signo do “ter”, da individualidade e do consumo. Os egos andam inflados, os umbigos são o centro do mundo, e quem se importa muito com os corações alheios?
Obrigada pela leitura e por compartilhar tuas impressões.
Um beijo!
teste
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