Vejo o outono transformar-se em inverno. Assim, num piscar de olhos, no instante de um bocejo. Da janela da casa toscana, espio os ciprestes que se inclinam solenemente à força do vento. Meus olhos alcançam os vinhedos logo ali, ramos nus, já desprovidos das folhas amarelas e vermelhas. Esplêndidas cores de um outono fugaz, que deslizam à terra sem dar aviso, sem despedida.
Quando vejo, é inverno. O jardim mais triste, mais austero. Ao longe, os picos das montanhas cobertos de neve. A lenha sendo consumida diariamente, crepitando sob o fogo, espalhando seu cheiro forte pela casa. Doce aconchego do lar, a manta no colo a aquecer as páginas do livro, ou sobre os ombros a embrulhar quem escreve.
Mas a melancolia bate à porta, espreita-nos por entre as frestas da janela, teima em querer entrar. Sensação de adeus, de coisas que não voltam mais, de um ciclo que se fecha, a ansiosa expectativa de um novo recomeço. Outra estação.
Não, nos deixe estar. Ainda um pouco, somente. Protegidos, escondidos em nosso refúgio. Casa no fim da estrada, depois da descida, virando a curva. Redoma fora do tempo e do espaço.
Letícia Möller
Montepulciano, 17 de novembro de 2007
sábado, 17 de novembro de 2007
Outra estação
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2 comentários:
Um texto tão bem escrito,que parece uma fotografia.Bjs.
linney
Linney, obrigada pela presença constante. É ótimo poder contar com a tua leitura e opinião.
Um abraço!
Ah, vi que faz tempo que não publicas teus poemas...
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